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OS SAPATOS, OS DENTES E O MARTELO
Eu criei a verdade, à minha imagem e semelhança. E à qual outra poderia ser, senão aquela que
conhecia!? Inventei-a com os ‘olhos’ que
tinha, mais astigmáticos do que os meus próprios olhos de carne, limitados pela
dificuldade de focalizar e à consequente distorção que ela causa nas imagens vistas. De verdade - considerando a relatividade da
minha visão, por ser incapaz de alcançar a totalidade de imagens concretas, o
mesmo se deu com as abstratas - foi uma construção imperfeita e incompleta, com
um número bem menor de facetas – mas foi aquela que eu ‘queria
ver’ e sobretudo, aquela que eu 'podia ver'.
Eu sempre intuía, que ela não era plena, nem de longe e
menos ainda, de perto! A todo instante, eu
sentia a 'menos inverdadeira', a me perseguir, tentando comer meus calcanhares. O tempo todo, era perceptível, que eu insistia, em usar um sapato menor do que o
meu pé. Mas o que eu não poderia supor, é o quão estreita era a minha visão, que me mantinha distante da realidade dos fatos.
Hoje, não tenho pretensões de julgar, que posso ver com mais clareza, nem que minha visão tenha melhorado, mas sigo com mais atenção, quantos aos sapatos que calço; e a cada vez que sinto meus calcanhares sendo mordiscados, pelos dentes da verdade, procuro dar ouvidos ao que a sua boca tem a me dizer. Como os olhos são os mesmos, aprendi a não bater mais o martelo, como antes; porque quanto mais se bate o martelo, mais a verdade se quebra em múltiplos fragmentos, estes se espalham e escapam do meu campo de visão..
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