1538
Como todo ser vivo, precisei de duas metades que se ajustassem uma à outra, para me corporizar por aqui. Depois de concebida, ganhei formas humanas, me alimentando indiretamente das substâncias, e de sentimentos, que tomei como meus. Aos poucos, todas as partes, foram se desenvolvendo e crescendo, até que cheguei à forma primária de minha constituição física e à forma inicial de minha estrutura emocional. Nesse momento, eu havia recebido tudo de que precisava, para dar continuidade à história única, que começara e escrever.
Precisei de um bom tempo ainda, para aprender a
caminhar com minhas pernas (no sentido mais amplo da emancipação) ... maior
tempo ainda, para treinar a pensar com a minha cabeça, porque no começo, eu não
pensava, só sentia. Tudo que aconteceu
ao meu redor, contribuiu para o meu fortalecimento; todos que cruzaram ou que
dividiram o mesmo caminho, também contribuíram com experiências, que agregaram
aprendizado. Era forçoso, que meu caminho fosse descoberto, personalizado para os meus propósitos.
Nunca estive só, porém era preciso que eu
pessoalmente, me desse à luz, parisse a mim mesma, na versão concreta da
verdadeira construção - entronizada de tudo o que havia me afetado, até ali.
Confesso que foi um parto difícil, com contrações
dolorosas de músculos ainda fracos, comprimindo e convulsionando, as ideias
necessitadas de amadurecimento, mas que tinham que corresponder ao que se
exigia deles – a transformação da essência bruta em resultado mais apurado. Sempre é preciso abandonar as velhas peles, porque não comportam mais as células renovadas, nem os velhos conceitos, agora com outros significados.
Do primeiro parto – o verdadeiro, eu não tenho lembrança
vívida, apesar de tê-lo vivido. Do
segundo, trago gravado todas as dores, a respiração ofegante, a sensação de
medo e desespero de não ser capaz de concluí-lo.
Foi um parto, onde ao mesmo tempo, fui a parturiente,
a assistente e o próprio fruto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário