quarta-feira, 21 de setembro de 2022

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UM SENTIMENTO NA CURVA

O amor nasce de um leve interesse, de um olhar e atenção despretensiosos e não esperados, porque de fato, não se sabe mesmo, quando ele vai brotar.  Onde antes não havia conhecimento ou sentido, passa-se a construir uma conexão, cada vez mais forte, de cumplicidade e satisfação na presença.  Aos poucos ou às vezes, rapidamente, se torna frondoso e intenso, surpreendendo e atingindo seu ponto mais alto.

E pelas mesmas razões, só que inversas: pelo desvio do olhar (que não suportaria explicar o ‘por quê’ da distância), não só pelo enfraquecimento da conexão existente (resultado do fim da cumplicidade); muito mais pela presença, que já não é mais prazerosa.  É o começo de um declínio, lento, mas certo.

Mente quem diz, que ele a tudo suporta, porque é feito de substância que não aguenta corrosões, nem altas temperaturas ou baixas, nem abalos que comprometam sua estrutura - ele é humano, tanto quanto o é, o próprio ser que o sente.  Como organismo vivo, sua anatomia precisa de alimento para continuar sendo do jeito que é - não se retroalimenta, pois não come de seu próprio fruto e não bebe de sua própria água  Palavras jocosas aqui, um desrespeito ali, uma desqualificação num momento importante, uma omissão, uma ofensa - mesmo que aleatórios ... uma opinião ignorada, um pedido justo não considerado; vão minando, o que nasceu tão bonito e que tem um fim tão feio e triste.  Todos os ataques sofridos, em que não se reconheceu o erro, em que não se fez o que era necessário, e em lugar disso, houve continuidade do comportamento abusivo e desrespeitoso - têm efeito fatal sobre um sentimento tão forte, mas tão necessitado de raízes fincadas no respeito e cuidado.



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