1534
UM SENTIMENTO NA CURVA
O amor nasce de um leve interesse, de um olhar e
atenção despretensiosos e não esperados, porque de fato, não se sabe mesmo,
quando ele vai brotar. Onde antes não
havia conhecimento ou sentido, passa-se a construir uma conexão, cada vez mais
forte, de cumplicidade e satisfação na presença. Aos poucos ou às vezes, rapidamente, se torna
frondoso e intenso, surpreendendo e atingindo seu ponto mais alto.
E pelas mesmas razões, só que inversas: pelo desvio do
olhar (que não suportaria explicar o ‘por quê’ da distância), não só pelo enfraquecimento
da conexão existente (resultado do fim da cumplicidade); muito mais pela
presença, que já não é mais prazerosa. É
o começo de um declínio, lento, mas certo.
Mente quem diz, que ele a tudo suporta, porque é
feito de substância que não aguenta corrosões, nem altas temperaturas ou
baixas, nem abalos que comprometam sua estrutura - ele é humano, tanto quanto o
é, o próprio ser que o sente. Como
organismo vivo, sua anatomia precisa de alimento para continuar sendo do jeito que é - não se retroalimenta, pois não come de seu próprio fruto e não bebe de sua própria água Palavras jocosas aqui, um desrespeito ali,
uma desqualificação num momento importante, uma omissão, uma ofensa - mesmo que
aleatórios ... uma opinião ignorada, um pedido justo não considerado; vão
minando, o que nasceu tão bonito e que tem um fim tão feio e triste. Todos os ataques sofridos, em que não se reconheceu
o erro, em que não se fez o que era necessário, e em lugar disso, houve
continuidade do comportamento abusivo e desrespeitoso - têm efeito fatal sobre
um sentimento tão forte, mas tão necessitado de raízes fincadas no respeito e
cuidado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário