terça-feira, 27 de setembro de 2022

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SINCERAMENTE

Depois de um bom tempo (e bota ‘muito tempo’ nisso), aprendi que não devo usar um balde maior do que a minha capacidade de carrega-lo cheio.  Também aprendi, que não importa o que eu mostre ao outro, ele verá sempre, o que ‘consegue’ e o que ‘quer’ ver.  Se eu insistir em usar recipientes maiores (e isso vale tanto para dar, quanto para receber), terei sérios problemas com meus braços – ficarão escangalhados num caso e paralisados no outro, à espera.

Esmiuçar demais um assunto, ficar justificando meu posicionamento ao outro, para que venha entender minha ideia, é gastar vela boa, com defunto ruim.  Quem não deseja entender, dispensa as mil palavras que se possa dizer; porque quem quer mesmo entender ... ah! ... essa pessoa, se esforça de verdade, e com bem menos palavras (às vezes nenhuma), é capaz de captar muito mais do que se pretendeu dizer.  Atenta ao olhar, ao gestual, estará considerando os sentimentos envolvidos.

Ninguém tem jurisdição, para determinar pena alguma ao outro, nem para mantê-lo ajoelhado no milho, por tempo além do necessário à reflexão e posterior arrependimento.  Ninguém é juiz de ninguém, a não ser de si mesmo.  Ninguém é objeto que se possa dispor, para extravasar a agressividade ou o sadismo alheios.



segunda-feira, 26 de setembro de 2022

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UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO 

UM TRABALHO PARA DOIS


Nunca, o trabalho para atingir o êxito de qualquer relação, entre duas pessoas, é apenas de um só.  Em todo relacionamento, seja amoroso, familiar, de amizade, existe a responsabilidade partilhada entre as partes - 50 por cento de cada lado.  Cada um se relaciona da maneira que lhe é própria, determinada pela sua personalidade, suas crenças e dinâmicas estabelecidas nas suas vivências.  Sem perceber, levamos para os nossos relacionamentos adultos, conflitos anteriores, que se expressam na dificuldade de interação com o outro.

Nem sempre, a comunicação flui de maneira tranquila, porque os empecilhos que surgem, muitas vezes, têm raiz em fatos desconhecidos sobre nós mesmos, aos quais não associamos o nosso comportamento - via de regra, ligamos a dificuldade de relacionamento à outra pessoa e ao contesto atual.  Responsabilizar o outro, colocando toda a carga nas costas dele, é ignorar a nossa participação, nesse entendimento fracassado.

As relações humanas não são coisas estáticas, elas precisam se adaptar, constantemente, sob pena de se deteriorarem, caso nada se faça a respeito. Uma vez, detectado o problema ou a falha desfavorável à boa interação, é necessário algum movimento, no sentido de minimizar as diferenças e se chegar ao meio termo, num acordo de senso comum.  A confiança e a reciprocidade devem alimentar a sua continuidade. O respeito deve ser a base de toda as alternativas, aplicadas pelo desejo sincero e mútuo de dar vida nova à relação, com a estreiteza no entrosamento, levando a vínculos mais fortes.  


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MOSAICO

Vi desejos grudados aos arcos invulnerados dos altos tetos.  Reentrâncias, de pedra resistente ao peso vertical da arquitetura, concreta o bastante, para barrar o vôo impetuoso dos sentimentos e quebrar suas asas.  Antes, seres alados, agora, organismos cativos, voaram até onde lhes foi possível e chocando-se contra a superfície rústica, lá permanecem grudados.  O chão forrado de pequenas e grandes asas, transparentes e partidas, me lembram pedaços de vidro multicolorido, formando um imenso, brilhante e indecifrável mosaico, sobre o qual meus pés, agora pisam.


sábado, 24 de setembro de 2022

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OPÇÃO IMPOSSÍVEL

Control Z’- não podemos aplicar essa ação na nossa vida, quando nos arrependemos de uma atitude, esta saída é inconcebível.  Passo dado é passo andado, voltar o pé, nesse caso é coisa inviável.  Todo movimento determina um direcionamento, que exclui possibilidades outras e gera automaticamente, consequências pertinentes à escolha e não reversíveis.

Na pior das hipóteses, no resultado mais caótico – ‘reversão’ aos atos é recurso que não se aplica.  A vida flui para frente, como a água corre para baixo e só sobe, se impulsionada por algum mecanismo ou em temperatura elevada.

‘Reparação’ é a única ação para os passos considerados indevidos.  E ainda, não devemos nos esquecer, de que são os ‘passos indevidos’ que nos proporcionam o aprendizado e nos levam à posterior experiência.



quarta-feira, 21 de setembro de 2022

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UM SENTIMENTO NA CURVA

O amor nasce de um leve interesse, de um olhar e atenção despretensiosos e não esperados, porque de fato, não se sabe mesmo, quando ele vai brotar.  Onde antes não havia conhecimento ou sentido, passa-se a construir uma conexão, cada vez mais forte, de cumplicidade e satisfação na presença.  Aos poucos ou às vezes, rapidamente, se torna frondoso e intenso, surpreendendo e atingindo seu ponto mais alto.

E pelas mesmas razões, só que inversas: pelo desvio do olhar (que não suportaria explicar o ‘por quê’ da distância), não só pelo enfraquecimento da conexão existente (resultado do fim da cumplicidade); muito mais pela presença, que já não é mais prazerosa.  É o começo de um declínio, lento, mas certo.

Mente quem diz, que ele a tudo suporta, porque é feito de substância que não aguenta corrosões, nem altas temperaturas ou baixas, nem abalos que comprometam sua estrutura - ele é humano, tanto quanto o é, o próprio ser que o sente.  Como organismo vivo, sua anatomia precisa de alimento para continuar sendo do jeito que é - não se retroalimenta, pois não come de seu próprio fruto e não bebe de sua própria água  Palavras jocosas aqui, um desrespeito ali, uma desqualificação num momento importante, uma omissão, uma ofensa - mesmo que aleatórios ... uma opinião ignorada, um pedido justo não considerado; vão minando, o que nasceu tão bonito e que tem um fim tão feio e triste.  Todos os ataques sofridos, em que não se reconheceu o erro, em que não se fez o que era necessário, e em lugar disso, houve continuidade do comportamento abusivo e desrespeitoso - têm efeito fatal sobre um sentimento tão forte, mas tão necessitado de raízes fincadas no respeito e cuidado.



segunda-feira, 19 de setembro de 2022

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DONDE

Ahí es donde quiero quedarme, donde el alma se calma y la esperanza renace. Donde muere la angustia y brota la certeza. En el lugar donde florecen las suaves ramas del amor que me acogen, como si fuera mi hogar.  Allí no hay frío, solo un olor dulce y cálido de ternura y placer. Dos brazos abiertos, que cuando me involucran, me guardan de todo miedo - dentro de ellos no hay peligro.

¿Cómo puede caber tanto dentro de un simple abrazo? ¡Que sea bendito!





sexta-feira, 16 de setembro de 2022

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UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO

LIMITES, RESPONSABILIDADE E FORÇA


Quando nos sentimos cansados, não é tanto pelo esforço e desgaste, que apesar de dispendidos, não nos fizeram atingir um objetivo ... é muito mais pela tentativa frustrada de mantermos o controle, de uma coisa não controlável.

O cansaço de termos feito o que era possível, é algo que se 'descansa' numa noite de sono.  Já, o cansaço de achar que poderíamos ter feito mais, além dos limites que nos cabem e que teimamos em desobedecer - esse sim, não passa nunca.  Quando não nos damos conta do roubo cometido - do que tentamos subtrair da responsabilidade alheia, puxamos para nós, cada vez mais, desafios e riscos inerentes à vida do outro, que não nos dizem respeito, diretamente.  O ‘trabalho’ que executamos, para tentar compensar o que o outro 'não faz', é o que cansa, porque chamamos para nós um peso, para o qual nossas costas não são preparadas de carregar.  Essa ‘apropriação indébita’ nos traz um cansaço, para além do físico, pois compromete seriamente, nosso bem estar emocional, devido à consequente e óbvia frustração, que nos acomete.

Os limites do que 'é meu' e o do que 'é do outro', nem sempre são claros; mais ainda, quando o resultado das ações ou omissões do outro, me afeta diretamente.  Estabelecer limites é saudável, mas para isso é preciso conhecer até onde posso ir, sem invadir o espaço do outro, sem roubar a sua força e dignidade.  O mesmo vale para o outro em relação a mim.













quinta-feira, 15 de setembro de 2022

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A TUDO E A TODOS


O ego é organismo muito sensível.  Traz à flor da pele, ramificações nervosas, quase aparentes.  Não tolera um pequeno arranhãozinho que possa danificar a camada superficial de verniz - protetora de sua autossuficiência e com a qual tenta esconder sua real sensibilidade.  Reage com exagero, à uma pretensa ‘ofensa’ que lhe dirigem ... (porque toma tudo como ofensa).

Ele é muito bom de entender como lhe convém e de responder da mesma forma.  Acostumado a fazer críticas ácidas a respeito de tudo e todos, não lida nada bem com as pequenas verdades que ouve sobre si.  Invariavelmente, prova do seu veneno e reage muito mal a ele, mas é necessário que isso aconteça, só assim, talvez um dia, se sinta forçado a sair do seu lugar e a se colocar no lugar do outro.  

Para o fato, de julgar-se dono da verdade, tem sempre justificativas: “Eu tenho razão!”  ...  (porque ele acredita nisso) ou “É preciso que alguém diga a verdade!” ...  e nós sabemos, que é a verdade dele, parcial, tendenciosa e nada acanhada!  Cabe dizer aqui, que para ele, tais 'verdades' são apenas 'comentários'.  Acredita mesmo, que goza de uma certa supremacia.

Julga-se referência de conduta, de sabedoria e vai por aí, aplicando ‘sua justiça’, com métodos contundentes, passando por cima de tudo e de todos, conquistando antipatias.



domingo, 11 de setembro de 2022

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UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO

ÁS ESCURAS


Eu me lembro de uma brincadeira, que fazíamos com o espelho, quando crianças.  Ele era colocado debaixo do nariz, voltado para o céu, e assim andávamos como se andássemos sobre as nuvens.  Era amedrontador, pois a sensação era de não pisar em nada - dava um frio na barriga!  Talvez a brincadeira, fosse um ensaio para a vida adulta.


Certas escolhas nos levam a caminhos não desejados.  Isso acontece, porque miramos no que vemos e não no que realmente é.  Nossa visão tende sempre a ser idealizada, segundo nossos anseios, fantasia e romance; e o que vemos acontecer muitas vezes, beira a insanidade.  A cada passo que damos, com base em ideias concebidas de fatos irreais, nos leva a um certo direcionamento real, não coincidente com o objetivo.

Eu questiono o ‘livre arbítrio’, aquela liberdade de escolha, que dizem que temos.  Concordo que somos livres para ir adiante, dobrar a esquerda ou direita e até retroceder, mas na maioria das vezes, não temos a menor ideia do que significará para nossa vida, tomar esta ou aquela direção.  Cada caminho, exclui os demais e nos leva a outras passagens secundárias e desconhecidas ... à cada decisão, corresponde uma consequência.  A liberdade concedida é apenas quanto a escolha do caminho, ela não se aplica aos resultados obtidos - eles nos são impostos pelas decisões, acertadas ou não.

Essa ‘liberdade de decidir’ com que fomos agraciados, é instrumento para o qual não estamos totalmente capacitados para operar.  É ferramenta que pode ferir, e invariavelmente fere, porque tem grande poder de corte e nossas mãos não estão devidamente protegidas.  É semelhante a um esmeril, que não vem acompanhado de equipamento de proteção, nem individual, nem coletivo, que espirra partículas perigosas, para todo lado. Só com a prática que adquirirmos em manuseá-lo, atingiremos a habilidade de usá-lo, sem nos ferir ou ferir alguém.



segunda-feira, 5 de setembro de 2022

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HOJE NÃO


Não me procurem, hoje não estou.   Fechei para balanço ou estou em recesso ou qualquer coisa que indique, a necessidade de me dar um tempo.  Fui colocar na ponta do lápis, o quanto dei e o quanto recebi.  Fui catar todos os pedaços de mim, perdidos pelo atual 'exercício', em cada um deles, um débito, um crédito.  Muito pouco 'em haver' - é essa, a conclusão a que chego, depois de fazer o levantamento das fichas da minha 'contabilidade pessoal'.  

Eu tenho alguns labirintos, evitados até agora, que devem ser percorridos, com determinação e coragem, porque nunca se sabe, onde se esconde um tesouro ou uma podridão a ser extirpada.  Tudo o que for encontrado será separado e colocado no devido prato da balança ou em dois sacos, um de coisas úteis, outro das dispensáveis.  

Um armário cheio de roupas e gavetas repletas de sentimentos desnecessários, que atravancam o aposento, tornando-o pequeno e opressor da consciência.  Já não há espaço para excessos de todo o tipo, até para os equívocos, os recuerdos e mimos que entulham as lembranças.  É um garimpo cansativo, de todo o acúmulo, que não é mais possível ser escondido debaixo do tapete e que se avoluma no meio da sala de estar. O bota fora está em andamento, pilhas de restolhos se amontoam para além do meu canteiro de obras e ninguém quererá ver a bagunça que se formou ... nem eu mesmo gostaria ... se pudesse, terceirizaria essa reforma, caso a bagunça não fosse só minha. Mas o trabalho ainda continua; amanhã talvez, eu o tenha concluído e então, estarei disponível - hoje não!


arte __ catrin welz-stein


quinta-feira, 1 de setembro de 2022

1530




POR HORA, NÃO É HORA

Nestas manhãs claras e frias, o ar gelado entra pesado pelas narinas, a pele se ressente do toque exagerado do vento.  Nestas manhãs, sonhamos com brisas mais quentes, roçando nosso corpo e com respirações menos sofríveis.  Eles parecem estar tão longe ... as brisas e o calor! ... Sinto saudade e um medinho (não sei por quê) de que o sol forte e inclemente não volte a me incomodar, mesmo debaixo da sombra.  Mas eles estão cada vez mais perto, mais próximos de acontecerem, ainda não chegou o tempo para isso, eles virão, não no meu tempo, mas no deles - 'nem antes, nem depois'.  Por ora, é hora de ventos frios, de roupas mais quentes e um pouco mais de reclusão, de nos voltarmos para dentro, para a necessária reflexão e a inadiável renovação.


arte | alyssa monks