segunda-feira, 11 de abril de 2022

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DEVAGAR COM O ANDOR




O santo sempre foi de barro, mas tratado 'como se não houvesse amanhã'.  A consciência de sua consistência e natureza, ou seja, que ele é feito de barro moldado, finito e quebrável; vem bem mais tarde, depois de um certo desgaste no material e suas consequentes avarias na forma.

Por isso, quando a vida te soprar no rosto, aprecie o aroma que vem junto com a brisa ou o vento que emaranha os cabelos.  Quando a vida te beijar, receba o carinho que ela deposita na face.  Se ela te chamar para dançar, dance ou saia, se ela te convidar para ir a algum lugar.  Dançar é coisa que se faz com as pernas, em perfeito estado.  Visitar lugares agradáveis ou conhecer novos, se faz com disposição e alegria; interagir com pessoas, enquanto há tempo e vontade na troca e prazer no contato; tudo isso e mais, só é possível enquanto há tempo de se entregar.

Como já disse, o barro é finito e quebrável, tem inclusive um prazo de validade.  Um dia ele se quebra e não se presta mais ao contentamento, que muitas vezes, negamos a nós mesmos, por escolha - achando que outras festas virão, outros encontros, oportunidades.  Nunca sabemos quando será a última festa, a última refeição ou a última 'deixa' da vida de sermos felizes.

Ela vem, inevitavelmente, de uma forma ou outra, limitar a nossa capacidade de movimento, de pensar, de usufruir do que ela pode nos dar.  O dinheiro pode chegar, depois da vontade de comprar; a viagem pode 'pintar' quando não é mais possível aproveitar.  Portanto, viva hoje, não desperdice chances que ela te dá, de viver momentos inesquecíveis e únicos.  Façamos bom uso do boneco que nos serve de casa, ao qual emprestamos vida.  Um dia, seremos chamados a devolver a matéria prima, à terra de onde fomos retirados; que o boneco nos tenha sido útil, para dançar, cantar, amar, na plenitude capaz de ser obtida, através do barro finito ou da massa a ser consumida pelo tempo.




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