quarta-feira, 6 de abril de 2022


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 UM DIFÍCIL DIÁLOGO





A razão tentou conversar com o sentimento, mas ele não ouvia - só sentia.  Ela estava disposta a ouví-lo, se ele quisesse falar ... porém ele irredutível, sem querer fazer outra coisa além de sentir, não se dava a esse trabalho.  Ouvindo, talvez não entendesse ou nem soubesse se expressar.   Só uma coisa ele sabia - que sentia, e sentia muito.

O sentimento estava sob a influência da emoção, e isso fazia com que seu coração doesse, toda vez que ele respirava.  Suas ideias andavam um tanto desarranjadas, e por quê não dizer: que sua cabeça parecia enguiçada, sem conseguir formular um pensamento sequer.  Para ele, a razão era fria demais, não sabia nada sobre o assunto que desejava debater.  Ele desconfiava até, que ela nunca sentira nada parecido.

E ficaram assim, por um bom tempo, os dois, a se fixarem em seus atributos: a razão com o seu raciocínio e o sentimento com o seu sentir.  Até que um dia, depois da razão ter-lhe dado tempo de se livrar da emoção, foi possível um diálogo franco e honesto, entre os dois. Ele, um pouco mais centrado, ela um pouco menos inquisitiva e imperativa, chegaram a um consenso.  

Ele decidiu que continuaria sentindo, mesmo porque não conseguiria arrancar de si, aquele sentir - desde que, o que se sente é sentido com os nervos, com os músculos, com todas as partes do corpo.  Só que dessa vez ele estava ciente, de que deveria deixar sentir, até que um dia quem sabe, não doesse tanto, que afinal se daria conta de ter outro primeiro pensamento do dia, outro último pensamento do dia, que não aquele que o perseguia.  Porque afinal, ele sentia, mas também era capaz de pensar.

A razão, exímia pensadora, também pôde sentir - quando devia esperar e calar, quando era a hora certa de falar; porque às vezes, é preciso deixar doer, tudo o que tem que doer, porque é só assim que se convence um sentimento.




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