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SENDERO SOMBRIO
O sentimento foi plantinha, que cresceu agarradinha com a esperança. Sem saber onde crescia, só sabia que sentia! Ao vento leve, agradecia; a chuva forte, pra ela era sorte. Ao nascer do dia, o sol batia de esgueio, por entre as ramas maiores, acertava-lhe as folhas em cheio e alimentava sua alegria. À noite, no silêncio e no frescor, usava um artifício: ficava quietinha, sem se mexer e aproveitava, pra descansar do trabalho de crescer, pois queria, um dia florescer.
Fizeram-na crer, que crescia, em solo que não deveria. Enquanto descansava, da árdua tarefa de subir, ela também pensava: 'desde quando uma semente não deve aninhar-se num chão?' ... e ela mesma respondia: 'só se esse chão, lhe negar alimento!' ... definitivamente, esse não era o seu caso. Não foi num vaso que ela crescera, foi num coração que a recebera e além do mais; o chão de um coração, só deve pertencer ao dono do próprio coração, a ninguém mais.
Negar vida a um sentimento tão sincero, é 'sendero sombrio'. Ignorar a evidência, de que um coração tem muitas formas de amar, é no mínimo, esperar dele um comportamento inumano, é sinal de grossa incoerência, quando não se leva em conta a extensão de seus limites.
de esgueio - torto, em diagonal
sendero - caminho, trilha
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