sábado, 23 de outubro de 2021

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O PESO DO FARDO



 

Quando é preciso, não tenho orgulho - eu bato tambor ou envio sinais de fumaça.  Eu grito, eu choro, eu peço, eu escrevo; porque a vida é demais de ousada e sempre surpreende com coisas antes não pensadas.  Ela esfria o tempo de uma hora para outra e nos pega de calças curtas, sem agasalho ou teto; quer comer, quando não há nada sobre a mesa; exige rapidez, quando o medo paralisa.  Nos momentos de crise, um pano escuro e frio parece cair sobre mim, privando-me temporariamente, da visão e coragem.

Nessas horas ela é pesada demais, para dar conta sozinha e no silêncio.  Não que o fardo que é meu, possa ser carregado por outro, isso não; porque está aí, algo individual e intransferível; mas o que pode ser partilhado é a minha incerteza, na maneira de como carrega-lo, com um pouco mais de leveza, entendimento e acerto.   Nisso, bons ouvidos e boas palavras podem me ajudar a achar o caminho e a força.  Às vezes, as boas palavras nem são necessárias, mas os ouvidos? ... ah! ... esses são imprescindíveis – eles me ouvem, e enquanto falo, escuto a mim mesma, e mesmo que não existam palavras a serem ditas, essa atenção me dá a chance de entender um pouco melhor o que se passa comigo – ganho tempo para colocar as ideias em ordem, oxigenar o cérebro e acalmar o coração.  O fardo permanecerá o mesmo, mas o seu peso estará um tantinho diminuido.


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