Entre o que 'é' e o que
'não será', mora o sentir - uma entidade, independente da minha vontade,
sensatez e vergonha. Foge da lógica do contexto de hoje, que só
pode ter origem e explicação, admitindo-se uma outra realidade. É o mesmo
que andar sobre uma corda ou ponte rústica e bamba, que atravessa um vale
profundo. Para qualquer extremidade que se vá ou para qualquer lado que
se caia, causará estragos.
A sua presença fustiga, a
tua ausência machuca. E então fico eu, entre o que 'é' e o que 'não
será', solta e instável; presa a um 'sentir' inevitável, pelo sim e pelo não
... pelo que, na verdade ... é apenas um 'não', um sonoro e redondo 'não'.
Sem que o toque se desse,
além do abraço ou do beijo fraternos, senti-me nu (assim eu senti) - como se me
arrancasse a armadura, depois a roupa, minando todo o meu poder de resistência,
toda a minha possível defesa. Foi uma nudez de alma, escancarada e
indisfarçável - um despir de todos os fingimentos que eu pudesse simular.
Meus olhos se abrem ao seu
sorriso. O meu sorriso, eu ofereço à sua existência. E o meu coração, já
não sabe mais o que sentir - anda bambo, entre o que 'é' e o que 'não será',
mas queria tanto que fosse! Equilibra-se sobre a corda esticada, que
atravessa o vale profundo pelo ar; treme, em cima da ponte rústica e oscilante
ao vento, em meio ao espaço aberto, que separa as duas extremidades.
Entre as duas pontas da razão, é lá onde habita o sentimento, consciente apenas
do seu sentir.
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