sábado, 14 de agosto de 2021

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ENTRE AS DUAS PONTAS



Entre o que 'é' e o que 'não será', mora o sentir - uma entidade, independente da minha vontade, sensatez e vergonha.   Foge da lógica do contexto de hoje, que só pode ter origem e explicação, admitindo-se uma outra realidade.  É o mesmo que andar sobre uma corda ou ponte rústica e bamba, que atravessa um vale profundo.  Para qualquer extremidade que se vá ou para qualquer lado que se caia, causará estragos.

 

A sua presença fustiga, a tua ausência machuca.  E então fico eu, entre o que 'é' e o que 'não será', solta e instável; presa a um 'sentir' inevitável, pelo sim e pelo não ... pelo que, na verdade ... é apenas um 'não', um sonoro e redondo 'não'.

 

Sem que o toque se desse, além do abraço ou do beijo fraternos, senti-me nu (assim eu senti) - como se me arrancasse a armadura, depois a roupa, minando todo o meu poder de resistência, toda a minha possível defesa. Foi uma nudez de alma, escancarada e indisfarçável - um despir de todos os fingimentos que eu pudesse simular.

 

Meus olhos se abrem ao seu sorriso.  O meu sorriso, eu ofereço à sua existência. E o meu coração, já não sabe mais o que sentir - anda bambo, entre o que 'é' e o que 'não será', mas queria tanto que fosse!  Equilibra-se sobre a corda esticada, que atravessa o vale profundo pelo ar; treme, em cima da ponte rústica e oscilante ao vento, em meio ao espaço aberto, que separa as duas extremidades.  Entre as duas pontas da razão, é lá onde habita o sentimento, consciente apenas do seu sentir.


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