sexta-feira, 27 de agosto de 2021

1396

DUAS MENINAS




No 'frigir dos ovos', acabo por ficar sem omelete - para entender é preciso antes, compreender.  Não é, exatamente sobre ovos que falo, nem de crianças.

As minhas meninas, sem dúvida, também gostam de você, porque elas 'se riem', com sua presença - ficam agitadas e soltam gritinhos de contentamento.  Eu também teria esse mesmo comportamento e correria ao seu encontro, ao seu abraço, não fosse a compostura pensada e forçada, a que me submeto - que me faz adquirir fingida naturalidade e pretextar senso. Como não posso fazê-lo, deixo que minhas meninas, corram na frente e lhe abracem, beijem e digam espontâneas: prazer em lhe ver!

arte __ agnes cecile

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

1395

UMA MULHER SOB O SOL



Sob o sol manso e mais próximo de sua hora de desaparecer no horizonte - uma mulher caminha, a passos pensados, meticulosamente cadenciados, 'querendo querer' fazer um outro caminho, diferente do que fizera até então.  

Senhora de si, tranquila, aprecia a brisa morna em seu rosto, enquanto vê a sombra que sua silhueta desenha no chão, pois o sol se põe, atrás de si. Afasta com os dedos, uma mecha imaginária de cabelo, que lhe cai sobre os olhos, indicando, que tudo se dá de maneira natural e espontânea.  Do alto dos saltos dos seus sapatos, pisa e pontilha uma linha, também imaginária, do que será, mais tarde, um traçado preenchido e manifesto, sobre sua vontade e determinação, postas em prática.

Não que exatamente, saiba para onde ir, mas sabe para onde não deseja voltar, não mais!  Seus passos são decididos e firmes, de se afastarem do indesejável.  Resta-lhe ainda a incerteza: para qual destino se dirigir - dúvida, que ela guarda só para si.  O mais importante é que está em movimento, na direção de descobrir o que realmente quer.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

1394

UM TANTO QUANTO


Nada é 'redondo' nesta vida, ou tem pontas ou tem lados que não se encaixam, no espaço vazio a ser preenchido.  É necessário um esforço de nossa parte, para aparar as pontas ou equiparar os lados.  Para tudo tem um jeito ... certo?  

O remediado nem sempre, é aquele que ficou sem remédio.  Na maioria das vezes, nós é que precisamos descobrir de qual tipo de substância estamos falando e qual deve ser a dose certa.  Lá vamos nós, através de sucessivas tentativas, e erros, e finalmente  acerto, até chegarmos à qualidade e a quantidade exata, para aplicá-lo.  Mesmo para aquelas coisas banais, simples e corriqueiras do dia a dia, é possível encontrarmos as mais absurdas dificuldades e impedimentos, como por exemplo num sistema que cai, na urgência de um resultado e outros tantos contratempos.

Quanto à frase acima, à primeira vista, a beleza é aquela 'sinônimo de formosura', mas neste caso, é a 'sensação' que temos quando 'dá certo'.  Invariavelmente, ficamos mesmo com a paciência, né?  Porque com a beleza, é um tanto quanto raro, de podermos contar!  Num número bem maior de vezes, as coisas custam a dar certo, isso quando dão!  Nessa tarefa árdua e hercúlea, de fazermos as coisas 'darem certo', exercitamos a nossa capacidade de 'apreender' a paciência, artigo concedido a quem muito se empenha e muito espera.



quarta-feira, 18 de agosto de 2021

 1393

EM PRIMEIRO LUGAR




Andei afastado das letras, porque estive muito ligado à vida, acudindo ao que ela exigiu que fizesse, no afã de atender às suas imperiosas exigências.  Não me lembro, dela ter-me perguntado antes: "pode ser?" ou "consegue?".   Estive fazendo o que era preciso, fui ao encontro de quem necessitou de mim, buscando o meu melhor desempenho. 

Quanto às minhas divagações mentais? ... tive que dar um tempo!   Se mal houve, o tempo para as minhas obrigações serem cumpridas! ... precisei optar pelas prioridades prioritárias.  

Estive ocupado também, em lidar com todas as limitações, as adversidades e más interpretações, e imaturidades, e descontroles das pessoas com as quais topei no caminho ... e com minhas próprias, antes de mais nada.  Tudo para que eu pudesse executar algumas 'missões', que a minha responsabilidade colocou sob meus cuidados - imposições, sem chance de escolha, preparo ou programação de minha parte - foi fazer ou fazer!  E eu fiz, de acordo com o que pude e com as forças que tinha.  O relógio, ah! ... se eu pudesse, arrancar-lhe os ponteiros!

No decorrer desses dias, mais e mais detalhes, foram sendo incluidos na rotina - coisas que precisaram ser feitas, em detrimento das que eu gostaria de ter feito.  Confesso que, sinto até um pouco de enjoo, coisa natural para mim, quando estou além do meu limite. Já nem sei, às vezes, qual é o dia da semana, em que estou?! 

O cansaço se apossou do corpo, mas a consciência está leve e tranquila - porque o que foi necessário, eu fiz e além do mais ... o corpo descansa e se refaz, a consciência ao contrário, nunca relaxa, nem se livra do peso da omissão.


arte __ helder teixeira peleja

sábado, 14 de agosto de 2021

1392

ENTRE AS DUAS PONTAS



Entre o que 'é' e o que 'não será', mora o sentir - uma entidade, independente da minha vontade, sensatez e vergonha.   Foge da lógica do contexto de hoje, que só pode ter origem e explicação, admitindo-se uma outra realidade.  É o mesmo que andar sobre uma corda ou ponte rústica e bamba, que atravessa um vale profundo.  Para qualquer extremidade que se vá ou para qualquer lado que se caia, causará estragos.

 

A sua presença fustiga, a tua ausência machuca.  E então fico eu, entre o que 'é' e o que 'não será', solta e instável; presa a um 'sentir' inevitável, pelo sim e pelo não ... pelo que, na verdade ... é apenas um 'não', um sonoro e redondo 'não'.

 

Sem que o toque se desse, além do abraço ou do beijo fraternos, senti-me nu (assim eu senti) - como se me arrancasse a armadura, depois a roupa, minando todo o meu poder de resistência, toda a minha possível defesa. Foi uma nudez de alma, escancarada e indisfarçável - um despir de todos os fingimentos que eu pudesse simular.

 

Meus olhos se abrem ao seu sorriso.  O meu sorriso, eu ofereço à sua existência. E o meu coração, já não sabe mais o que sentir - anda bambo, entre o que 'é' e o que 'não será', mas queria tanto que fosse!  Equilibra-se sobre a corda esticada, que atravessa o vale profundo pelo ar; treme, em cima da ponte rústica e oscilante ao vento, em meio ao espaço aberto, que separa as duas extremidades.  Entre as duas pontas da razão, é lá onde habita o sentimento, consciente apenas do seu sentir.


quarta-feira, 11 de agosto de 2021

 1391

LIBERTAÇÃO




Do mergulho involuntário em teus olhos, não voltei ilesa.  Algo de mim se perdeu, no profundo vácuo que minha constituição, como um ser inteiro, atravessou.  Foi como, se dispersadas as partes, que me eram reconhecidamente, intrínsecas à minha essência; juntaram-se outras, por atração.  Flutuando, naquela substância cariciosa e aquecida, que parecia conter todos os elementos do universo, todos os segredos desconhecidos, todos os motivos; uma transformação se deu em minhas moléculas e a minha maneira de sentir e ser, nunca mais foi a mesma.  

Eu conhecera o paraíso.  À medida que ele se desdobrava, à minha frente, ao meu redor, também deixava bem claro, que alí eu não poderia permanecer e então fui expulsa, com o conhecimento que vislumbrei, com a esperança que se apossou de mim.  Minhas asas - voei muito perto do sol e as queimei ou desci muito ao fundo, inutilizando-as.

Saí assim, se é que saí (!) ... Acrescida de você, menos outras partes minhas, abandonadas - pequenos pedaços, já dispensáveis e sem significado.  Mas por que será, que a ideia de incompletude, ainda me persegue?  A nostalgia se mescla com o contentamento e a descoberta mostrou-me uma parte da grande verdade, sobre mim mesma, que se nega, uma vez revelada e emancipada, em retornar ao ostracismo, do qual se libertou.  À perola, é impossível, o retorno à casca, depois desta aberta.



sábado, 7 de agosto de 2021

 1390

AO TEMPO E VEZ




As flores que emolduram o caminho, que meus pés, hoje pisam, não foram semeadas por mim.  Alguém que veio antes, se deu ao trabalho de depositar sementes na terra fofa e durante o curto tempo de sua passagem, proporcionou a elas, água e luz, para que pudessem florir.  Num exemplo de despreendimento, cultivou-as e seguiu em frente.  Talvez, não tenha visto, seus pequenos botões despontarem e certamente, não as viu desabrochar, no entanto não se negou à ideia da semeadura.  O máximo que eu fiz, foi tentar preservá-las, durante o meu transcurso, ao invés de tê-las pisado.   A existência das flores, sempre garante a presença de abelhas, borboletas, pássaros, perfumes, alimento e mais vida.

A meu próprio tempo, esforcei-me e ainda me esforço, em esconder algumas outras sementes, na terra que eu mesma afofo, às margens do caminho, dando-lhes condições de irromperem em direção à luz.  Talvez elas brotem, algumas não nascerão, mas fiz e faço a minha parte, como um sinal singelo de gratidão pelo que recebi.  Espero deixar um pouco de mim, numa mensagem de alegria e esperança, e em vez de iluminar o breve tracejo que deixo para trás, escolhi fazer a minha semeadura, para que o milagre do florescimento aconteça e venha alegrar outros olhos, que virão e verão as flores germinadas, ao longo de sua viagem, no seu tempo e vez.


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

1389

CERTAS MANHÃS E OS SONHOS




Certas manhãs são entidades misteriosas, que parecem esconder suas verdadeiras intenções.  Instigam em nós,  o desejo de desvendá-las, com o desenrolar das horas - o que reservam para nós.  Tão bem guardado, conservam o seu segredo, atrás de silêncios e nuvens esparsas, como querendo nos causar, um impacto mais forte, ao se revelarem, através de sinais muito claros, escancarando nossa impotência - quanto à suas determinações e a nossa incapacidade - em prever o que nos esperava.    Ficamos exatamente, no meio de um cerco, cujo contorno é feito de vários elementos de mãos, bem dadas e firmes.  A nossa pressa, a incerteza, o inesperado, a sensação de despreparo - olham fixamente, para a nossa cara de espanto ... e o próximo elemento que se junta ao círculo é a surpresa. 

Quando a manhã nos surpreende com um bom dia, esse cerco se desfaz.  Quando outra manhã, nos revela o desagradável - o desapontamento, tende a aumentar o perímetro da figura geométrica, na qual estamos inseridos, bem ao centro, sem com isso nos dar uma impressão de mais conforto, liberdade ou satisfação.

Os sonhos que tivemos durante a noite, serviram para nos fazer sentir, apenas em espírito; aquilo que talvez, não venhamos viver na carne, nesse dia.  Se tivermos 'sorte' (é assim que alguns pensam), vamos poder agregar a resignação, nessa linha redonda.  Eu prefiro dar um outro nome, ao esforço que se despende, para atingir tal estágio, porque não se trata de ter sorte e sim, de muito exercício e empenho, em aceitar o fato incontestável, de que o nosso dia será como precisa ser.




quinta-feira, 5 de agosto de 2021

1388

PROMESA




Te ofrezco mi mirada de ternura, la calidez de mi abrazo, mi sonrisa cuando te veo.

¡Llegué tarde o tú fuiste el que llegó tarde! ... ¡no sé!

La alegría llena mi sangre de dulzura - la dulzura que hace el bien, que llena el alma y la vida. Mi boca guardará palabras delicadas. Por todo y nada, por la simple presencia, siempre es un inmenso placer.

Los ojos dicen cosas que nosotros no décimos. Los tuyos encantan los míos y veo que los tuyos también se alegran, porque parecen sonreír al verme. El abrazo se convierte en un lugar familiar. Tu sonrisa ilumina el día. El reencuentro calienta la existencia y asegura la promesa de más dulzura.


quarta-feira, 4 de agosto de 2021

 1387

VITÓRIA E GLÓRIA



As duas são nomes de mulher, mas aqui, vão ser outras coisas.

É certo que cada um escreve a sua história, em pequenos capítulos, dia a dia, até se tornar uma obra colossal.  Certas pessoas, adoçam as palavras, quando descrevem suas passagens tristes, que ficam dissimuladas nas entrelinhas e no que não é falado, que são na verdade, dolorosas e legítimas, no desgosto que causam.  Só é capaz de ler nas entrelinhas, alguém que já tenha sido letrado, nessa linguagem, que não é feita de letras, e sim, feita de sensibilidade.  Sensibilidade, a mais pura e notável, da parte de quem escreve, para não nos provocar um choque maior, em seus relatos.  É o caso de quem consola, antes mesmo de ser consolado e de quem compreende, muito antes de ser compreendido.

O objetivo é, de fazermos uma magnífica atuação, daquele que deve ser o nosso papel, dentro da nossa história, como protagonistas de fato, dentro de todos os cenários que se apresentam.  Interpretar as alegrias é fácil, porque é impossível, alguém ser triste, estando em gozo da felicidade.  Transformar sentimentos de consternação, diante das fatalidades e do que deu errado, na nossa vida, é o que requer muita serenidade e sabedoria - coisa que não se aprende sem paciência, coragem e resignação.  

A verdadeira vitória é encarnarmos nosso personagem, com toda veracidade e transparência que ele merece e que os demais também merecem.  A glorificação é, passarmos aos que trilham conosco a estrada, uma mensagem de foco, força e fé ... não importando em qual ordem apareçam.  É nosso verdadeiro triunfo, deixarmos à posteridade, uma história coerente e digna de ser conhecida.


arte __ glória tremblay

terça-feira, 3 de agosto de 2021

 1386

A CORDA E A PRESSA




Algumas manhãs não são quietas, pássaros enchem o vazio do silêncio e do ainda escuro, com seus pios estridentes e desesperados.  A mente, que até então, esteve dando um rolê por outras paragens, retorna rapidinho, a nos importunar com seus burburinhos, não menos estridentes e nem menos desesperados. São os pensamentos borbulhantes e efervecentes, saídos do torpor, que despertam com a corda toda e nos impulsionam através da pressa das horas.

domingo, 1 de agosto de 2021

 1385

CRENÇAS E VALORES




O ego sai por todos os orifícios da cabeça. Expande o abdômen em direção ao exterior, capta todas as impressões e as suga, ávido, em proveito próprio. A posse dessa 'verdade inflada' envaidece e faz intumescer os membros; adormecer os músculos; aumentar o tamanho da imagem que se reflete no espelho, simulando elevada autoestima. Essa postura, associa-se a discursos imperativos, quando se vê na iminência de uma possível perda, à sua pretensa primazia, em qualquer sentido. A sua satisfação, se limita à sua própria, porque é incapaz de cogitar sobre a necessidade do outro.

'Egofrido', mesmo quando dá algo de si, dá, esperando ficar bem na 'fita' e só o faz, se o esforço lhe render algum dividendo garantido. Caso contrário ... conserva mãos, braços, coração e bolsos fechados. Sobretudo mantém intactos suas crenças e valores, dentro de uma percepção tão arraigada quanto obtusa, com relação aos seus prazos de vencimento e inversão de importâncias.