segunda-feira, 19 de abril de 2021

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UM FURACÃOZINHO CHAMADO MARIA




Só ela mesma, para conseguir deixar, o que já era bom, ficar ainda melhor.  Do pão murcho ela fazia pudim, do arroz velho ela fazia bolinho.  Dizia assim: "esse pudim é 'mata-fome' ..." e matava mesmo.  E o bolinho de arroz, como era bom, sequinho e crocante!  Talvez tenha se esquecido de nos contar, sobre um ingrediente 'secreto' usado por ela, que fazia toda a diferença. Se não era isso, então, eram suas mãos abençoadas, que tudo que tocavam, não virava ouro - virava gostosura.

Ah ... ela era demais.  Abria a geladeira e dizia: "tá vazia" ... e em minutos aparecia com alguma coisa deliciosa, doce ou salgada.  Aqui, hoje, só vou falar de sua desenvoltura na cozinha; qualquer dia, eu falo de seus outros dons.

Aprendi com ela ou foi herança, o gosto pela alquimia dos alimentos; mas as minhas mãos são outras e jamais conseguirei, nem ninguém conseguirá, fazer o mesmo bolinho de arroz, o mesmo chapéu de napoleão, a mesma sopa de feijão, a mesma couve refogada, o mesmo bife de carne de segunda virar 'manjar dos deuses'.  A sua capacidade de criar algo novo, simples e saboroso, do nada ... sempre me encantou.  Era como se ela se pusesse a fazer mágicas, sem ter nenhuma cartola - só o amor, que lhe escorria do coração, na direção das mãos.

Era um 'furacãozinho', fazendo barulho com suas panelas e apetrechos, suas mãozinhas ágeis e certeiras, na dose de açúcar, sal, tempero. Não tinha nada que fizesse, que não fosse uma delícia. Quando terminava, sua cozinha estava sempre impecável, louça enxuta, guardada e a mesa posta.

Quanto a mim, acho que fico devendo, quem sabe um dia eu aprendo, por ora contento-me em copiar seu exemplo, embora esteja aquém, do que ela realizava ... e não só na cozinha.

19/04/21

 

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