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UM FURACÃOZINHO CHAMADO MARIA
Só ela mesma, para conseguir deixar, o que já era bom, ficar ainda melhor. Do pão murcho ela fazia pudim, do arroz velho ela fazia bolinho. Dizia assim: "esse pudim é 'mata-fome' ..." e matava mesmo. E o bolinho de arroz, como era bom, sequinho e crocante! Talvez tenha se esquecido de nos contar, sobre um ingrediente 'secreto' usado por ela, que fazia toda a diferença. Se não era isso, então, eram suas mãos abençoadas, que tudo que tocavam, não virava ouro - virava gostosura.
Ah ... ela era demais. Abria a geladeira e dizia: "tá vazia" ... e em minutos aparecia com alguma coisa deliciosa, doce ou salgada. Aqui, hoje, só vou falar de sua desenvoltura na cozinha; qualquer dia, eu falo de seus outros dons.
Aprendi com ela ou foi herança, o gosto pela alquimia dos alimentos; mas as minhas mãos são outras e jamais conseguirei, nem ninguém conseguirá, fazer o mesmo bolinho de arroz, o mesmo chapéu de napoleão, a mesma sopa de feijão, a mesma couve refogada, o mesmo bife de carne de segunda virar 'manjar dos deuses'. A sua capacidade de criar algo novo, simples e saboroso, do nada ... sempre me encantou. Era como se ela se pusesse a fazer mágicas, sem ter nenhuma cartola - só o amor, que lhe escorria do coração, na direção das mãos.
Era um 'furacãozinho', fazendo barulho com suas panelas e apetrechos, suas mãozinhas ágeis e certeiras, na dose de açúcar, sal, tempero. Não tinha nada que fizesse, que não fosse uma delícia. Quando terminava, sua cozinha estava sempre impecável, louça enxuta, guardada e a mesa posta.
Quanto a mim, acho que fico devendo, quem sabe um dia eu aprendo, por ora contento-me em copiar seu exemplo, embora esteja aquém, do que ela realizava ... e não só na cozinha.
19/04/21
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