quarta-feira, 28 de abril de 2021

1345

DESLAÇAR


Joguei as palavras fora.  Elas, já não serviam mais.  

Algumas, eu arremessei com fúria, ao centro do lago dos meus sentimentos.  O impacto sobre a superfície calma e enganosa da água, foi o mesmo que o das pedras, quando jogadas de longe - bem grande e sonoro, fazendo círculos concêntricos, do meio à margem.  Foi o que se deu com meus pensamentos, alvoroçaram-se.

Outras, eu depositei, solenemente, na beirada rasa e clara do mesmo lugar, num tipo de cerimonial respeitoso.  Eu as vi, descerem lentas e suponho, terem se juntado às demais, ao fundo, também decompostas, em minúsculas partículas orgânicas, que não podem mais, serem resgatadas e se conformarem, como eram antes.  Quis me certificar disso e fiquei tempo suficiente, apreciando a película transparente do lago, voltar a ficar calma.                           

 28/04/21


deslaçar - soltar, desprender

conformar - tomar forma, configurar-se

domingo, 25 de abril de 2021

 1344

A BORBOLETA E A PÉROLA




Eu a encontrei, sentada na calçada ... Tantas vezes espremida,

esperando, esquecida.  Canta, com vozinha esganiçada.

Vê o arco-íris na bolha de sabão, tem uma boneca em sua mão.

Pra ela não existe tempo, nem sabe o que é contratempo.

Qualquer dia, é dia pra brincar.  Chorar?  Só quando machucar!

"Já é amanhã?" ... ela pergunta ... "já é dia de lasanha?"

Lá na nuvem, ela vê os anjinhos e me diz: que tudo eles ouvem!

Sou eu quem a aperta e abandona, penso ser sua dona.

Ela, é quem me lembra, da borboleta que nos deslumbra ...

Ela, é quem abre e me mostra a pérola dentro da ostra!

Quem sabe mais?  Somos uma soma de grandezas desiguais!

Sem ela, não sei o que eu seria, temos uma boa parceria!               

25/04/21





sexta-feira, 23 de abril de 2021

1343

UNA SOLO LINEA




Quizás no fuera solamente, una cuestión de amor, sino la longitud de la distancia que nos separó. Debo también, considerar el tiempo, que no fue el mismo para nuestras caminos y que faltó valentía para unir-los, yo confieso.

Pero como tenemos otras vidas, para vivir y cumplir todo lo que estamos predestinados, no hay prisa, estoy seguro de ello.

23/04/21






77 

UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO

SANGUE E RAZÃO



Os diálogos imaginários são as saídas, que encontramos, para contestação de um passado que nos desagradou ou para determinar, no futuro - um entendimento que gostaríamos que acontecesse.  Uma resposta não dada a tempo (um complemento que na hora 'não nos ocorreu') ou uma 'pequena mudança' de palavras, que poderia ter feito toda a diferença, sempre fica, na ponta da língua.  Da mesma forma, que fica a vontade de ter falado algo pertinente, que escolhemos por bem, não falar e do qual nos arrependemos, de ter guardado só para nós.

Na hora que o sangue esfria e o racional tem tempo suficiente, para processar o que se passou de fato, a lucidez desperta, a visão se aclara e o bom senso retorna.  É quando, conseguimos pensar com mais coerência e justiça, quando nos será possível, contabilizarmos o tamanho do estrago. 

Esses diálogos refeitos, são a tentativa de nos sentirmos menos mal, uma tentativa tardia e equivocada, de se resolver o que ficou mal resolvido ou amarrarmos as pontas deixadas soltas. Embora no momento crucial, tenhamos guardado silêncio, o diálogo interno é contínuo, quando as coisas não saem a contento - a sensação é de que estamos tentando colocar um país dentro do espaço de uma só cidade.

No caso dos diálogos feitos em tempo futuro, a parte racional, dá lugar à imaginação e os devaneios tomam conta da nossa linha de raciocínio, na sequência, vem a possibilidade, de darmos conta da nossa incrível criatividade, dentro da plasticidade das ideias.  Dessa forma estaremos tendo sensações fictícias, que talvez, nunca sentiremos de fato, gerando frustração certa. 

O sangue esquenta mais rápido, do que a razão é capaz de responder a qualquer provocação.  A razão geralmente, responde com mais propriedade, enquanto que o descontrole, toma a dianteira por uma questão de tempo de reposta.  A longo prazo, a repetição destes excessos, pode nos levar a consequências imprevisíveis ao nosso organismo. E mais um detalhe, cada vez que se recorda do instante desagradável, as mesmas emoções afloram em nossa pele. 

Nos dois casos, reformulando os diálogos antigos ou tentando dar forma aos novos, estamos sobrexcitando nosso sistema nervoso, tirando o foco do presente e praticando um enorme desperdício de forças, as nossas - um crime desumano, cometido contra nós mesmos - contra a nossa sanidade e bem estar.

23/04/21

quarta-feira, 21 de abril de 2021

 1342

NADA NI NADIE




Los actos son actitudes que tomamos con intención, según nuestra voluntad. Pero los 'sentimientos' son lo que son, ellos mismos, con sus sentimentos innatos, sobre dos auténticos pensamientos – ser reconocido y vivido - ellos no obedecen a nada ni a nadie.  Me explicaré: un sentimiento no nos pregunta si es lícito o apropiado sentirlo; vienen para quedarse, se instalan como si fueran dueños de la casa.

21/04/21



segunda-feira, 19 de abril de 2021

1341

UM FURACÃOZINHO CHAMADO MARIA




Só ela mesma, para conseguir deixar, o que já era bom, ficar ainda melhor.  Do pão murcho ela fazia pudim, do arroz velho ela fazia bolinho.  Dizia assim: "esse pudim é 'mata-fome' ..." e matava mesmo.  E o bolinho de arroz, como era bom, sequinho e crocante!  Talvez tenha se esquecido de nos contar, sobre um ingrediente 'secreto' usado por ela, que fazia toda a diferença. Se não era isso, então, eram suas mãos abençoadas, que tudo que tocavam, não virava ouro - virava gostosura.

Ah ... ela era demais.  Abria a geladeira e dizia: "tá vazia" ... e em minutos aparecia com alguma coisa deliciosa, doce ou salgada.  Aqui, hoje, só vou falar de sua desenvoltura na cozinha; qualquer dia, eu falo de seus outros dons.

Aprendi com ela ou foi herança, o gosto pela alquimia dos alimentos; mas as minhas mãos são outras e jamais conseguirei, nem ninguém conseguirá, fazer o mesmo bolinho de arroz, o mesmo chapéu de napoleão, a mesma sopa de feijão, a mesma couve refogada, o mesmo bife de carne de segunda virar 'manjar dos deuses'.  A sua capacidade de criar algo novo, simples e saboroso, do nada ... sempre me encantou.  Era como se ela se pusesse a fazer mágicas, sem ter nenhuma cartola - só o amor, que lhe escorria do coração, na direção das mãos.

Era um 'furacãozinho', fazendo barulho com suas panelas e apetrechos, suas mãozinhas ágeis e certeiras, na dose de açúcar, sal, tempero. Não tinha nada que fizesse, que não fosse uma delícia. Quando terminava, sua cozinha estava sempre impecável, louça enxuta, guardada e a mesa posta.

Quanto a mim, acho que fico devendo, quem sabe um dia eu aprendo, por ora contento-me em copiar seu exemplo, embora esteja aquém, do que ela realizava ... e não só na cozinha.

19/04/21

 

domingo, 18 de abril de 2021

1340

TEMPOS E CANTOS




Eu venho de longe, do fundo dos tempos. Passei por vários climas, coordenadas e relevos; debaixo e acima da terra, fora e dentro das águas.  Vejo campos verdes de abundância, enquanto corpos secos, com estômagos grudados de fome, vagam por terrenos ásperos, não muito longe.

Estive em lugares em que a poeira seca é arrancada do chão, pelo tropel de cavalos. Vi estalactites de gelo, penduradas à entrada das grutas, como grande cortina ou escorrendo dos telhados das casas, como franjas de um tapete gelado; apenas aguardando por temperaturas mais altas, para se desmancharem em bênçãos sobre o solo, desencavando a vida adormecida, fazendo-a explodir em cores e alegria.  Chorei pelas espécies extintas e que ficarão desconhecidas para sempre, pela história ainda enterrada.

Senti o aroma das bebidas quentes e o cheiro sufocante de carne humana, sendo queimada nas fogueiras da incompreensão.  Das chaminés, constatei saírem gazes mortíferos, no extermínio de milhões de individualidades, para depois serem enterradas em cova coletiva e comum - assisti e assisto ao homem agindo como ceifador de sua própria espécie, além de outras tantas.

Também presencio as chamas da ciência nas experiências em prol da vida, as orações subindo aos céus.  Vejo a ganância e a vaidade em ação, defendendo seus impérios com garras ferrenhas; mas também estive e estou presente quando a misericórdia espalha unguentos sobre as feridas, a solidariedade molha lábios ressecados e dá de comer à boca doente.  Vi e vejo as rosas que se transformam em pão e plantam a esperança no coração dos necessitados.  Testemunho o peso das consciências, ao serem consumidas em seus infernos pessoais e certifico o repouso tranquilo de outras, no travesseiro mais macio que existe - o da leveza no trabalho honesto e no dever cumprido.

Vi de tudo, em todas as épocas, em todos os cantos; vi corpos apodrecendo nas trincheiras, como vejo  as sementes germinarem na terra, os novos alimentos.  Vejo úteros, preparando outras pessoas - atesto o d.n.a. humano, se aperfeiçoando a cada geração e o espírito do homem sendo refinado, incessantemente.

Apesar de ter visto tudo - da morte ao renascimento e à morte - do mais bizarro ao mais terno; não perdi a minha capacidade, de em cada manhã, encantar-me com a criança embalada ao colo, ressonando inocentemente ... ou de enternecer-me com o diminuto inseto, que executa lindamente seu propósito de vida, porque sabe que seu futuro é de evolução, como o destino de todos os seres.

18/04/21





sábado, 17 de abril de 2021

76


UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO
 SUJEITO, VERBO | MENSAGEM, EVOLUÇÃO 



Não somos pugilistas, mas às vezes gostaríamos de dar um soco, bem certeiro, na cara de alguém ... ou então, uma voadora no peito alheio - arregaçar mesmo, para ser mais explícito.

Salvo algumas exceções, os verbos são todos autoexplicativos, ou seja, não precisariam ser rasgados, para serem entendidos, pois a língua portuguesa é riquíssima, na quantidade e na qualidade de seus termos. 

Voltando a falar de 'verbos', na verdade, não há nada de errado com eles, são o que são, cada um faz, o que diz fazer.  O problema está com quem os usa e com quem os entende, ou não entende.

Mas que dá vontade de rasgar um 'verbinho', de vez em quando, ah se dá; isso porque, é inviável e ilícito rasgarmos o sujeito, porque sempre há consequências para atos extremos.

Geralmente, quando fazemos isso ... 'rasgar o verbo' ... fazemos muito mais, acrescentamos um complemento bem categórico e cáustico, dirigido ao interlocutor, mesmo que este complemento, seja feito internamente, dentro da nossa cabeça, sem ser verbalizado.  Dependendo do grau de ferocidade do verbo, nós vamos juntar complementos mais e mais contundentes.

Sem perceber, que quando rasgamos o verbo - propriamente dito ... rasgamos muito mais do que isso.  Quebramos o sujeito em pedacinhos indigestos, deixando a sua imagem, imprestável.  Rasgamos a integridade da nossa serenidade e por fim, nos quebramos também.  Um soco dado, mesmo que na nossa imaginação, é um soco dado energeticamente, e seu retorno energético é certo, embora o ato não tenha se concretizado.   É apenas uma questão de tempo, até sermos invadidos pelo arrependimento causado, pelos desdobramentos do nosso descontrole.

Muito se fala, sobre a 'comunicação não violenta' - 'a linguagem do não conflito', útil em todas as áreas da vida.  Uma comunicação limpa, não é uma coisa fácil de se obter, sempre existem alguns ruídos, que podem dificultá-la.

Lembrando que, cada um fala, da forma que lhe é possível.  Cada um ouve o que lhe é dito, da maneira que seu entendimento lhe permite.  Nem sempre, ou raramente, o que se fala, é exato o que se quer falar.  Nem sempre, o que se ouve, é o que realmente foi dito, o que é mais raro ainda.

Falar, calar, ouvir, não ouvir ... são ações fáceis, apenas no significado da palavra em si.  Executar uma comunicação autêntica e empática, é muito mais complicado do que se imagina.  Como seres reativos que somos, é exercício para todas as horas e lugares - exige de nós um aprendizado atento, com base nos erros/acertos que obtemos nas nossas relações.  Entre o que dá certo e o que não dá, o desrespeito é sempre o primeiro empecilho para o sucesso da comunicação.

Falar é colocar o emaranhado que guardamos dentro de nós (em emoção e intenção), de uma forma inteligível e clara - explanada numa linha de raciocínio  conciso, para que possa ser entendido. Ouvir, é tentar enrolar, de forma ordenada, dentro do seu próprio sentido particular, aquilo que lhe foi veiculado.    Um novelo de ideias, às vezes confuso, devido a emoção do momento, nem sempre consegue dar origem à comunicação limpa.  A capacidade de recepção de quem ouve, também interfere na qualidade da mensagem recebida.

O tempo de resposta de nosso cérebro primitivo é muito mais curto, do que o do nosso cérebro racional.  O cérebro reptiliano nos proporcionou que chegássemos até aqui, a evolução se deu e deve ter continuidade.  

O próximo passo, é fortalecer nosso cérebro racional, capacitando-o para tomar decisões mais razoáveis.  De início, talvez ele necessite um pouco mais de tempo, para se acostumar, a tomar a dianteira, frente às decisões urgentes, que envolvem as emoções fortes e as grandes expectativas das duas partes.  Com o decorrer desse exercício, nas várias repetições, ele se tornará mais confiante e muito mais alerta, porque é assim que se dá a nossa evolução.

17/04/21





segunda-feira, 12 de abril de 2021

 1339

NOSOTROS DESEAMOS



Descalzos y cansados, todos andamos sobre piedras, las mismas, de las que debemos ordeñar la leche. Sin saberlo, cuando termine este tramo empinado y difícil, cada uno lleva su propia carga ... en trayectos individuales ... pero en veredicto común. Seguimos en la ardiente espera, por la conservación de la cordura; hasta que la extensión se vuelva menos dolorosa y nuestro caminar más suave. Este es el deseo de todos.  12/04/21


tramo - trecho

veredicto - sentença

cordura - sanidade


sexta-feira, 9 de abril de 2021

1338

QUE TE DIJE



La noche aprovechó la ventana abierta, para deslizarse sobre el parapeto y llenar la alcoba con su oscuridad viscosa. La sustancia se atascó en el entorno y entró en la historia de una persona sola, que esperaba estar llena de presencia y irónicamente, es llena de ausencia. Solo aquellos que saben de lo que estoy hablando, podrán entender la lógica de mis palabras, para otros no tendrá sentido.

 09/04/21


arte | christian schloe

quinta-feira, 8 de abril de 2021

1337

 EM TEMPOS DE PAX



Os crocodilos do fosso cederam lugar aos peixes. Os muros e seus contrafortes foram substituídos por cercas vivas. Já não há mais necessidade de feras, para comerem os inimigos, nem de grossas barreiras para defesa.  

Os peixes vão alimentar a todos. As folhagens e flores, servirão para desenhar um contorno colorido, delimitando territórios, numa demonstração do quanto é importante, a conservação de limites saudáveis.


pax - palavra de origem latina que significa paz

contraforte - reforço de muro, pilastra

terça-feira, 6 de abril de 2021

1336

DENTRO DE UM GRANDE ABRAÇO




Todo dia, o sol desenha uma curva côncava no céu.  Parte do leste, ganha fôlego, sobe e atravessa o mundo em direção ao oeste.  Bem no meio do caminho, atinge o seu ponto mais alto e mais brilhante.  Estranhamente, os seus momentos mais gloriosos não coincidem com esse ponto de maior altura ... o nascente e o poente, são os seus mais apoteóticos instantes.

A partir daí - o meio, se torna descendente, com a mesma pressa, com que subiu ... nenhuma!  Quer coroar o dia e vai deixando um rastro de calor e vida por onde passa, acima e abaixo do traçado que faz.  Foi o jeito que o sol encontrou, de envolver a terra, num grande abraço macio e revitalizador, mostrando o seu amor por ela.  

Os pássaros alimentam seus filhotes; os homens contemplam o brilho, que faz sobre as flores e folhas e tudo o mais, que recebe sua luz.  As sombras projetadas, dançam ao sabor do vento e as águas se deixam atravessar pelos seus raios.

Vai descendo devagarinho e apagando sua luz, do jeito mesmo como nasceu; mas ele não morre, apenas se esconde, sempre nos deixando a promessa infalível: de desenhar a mesma linha arredondada, no dia seguinte ... e disso ninguém duvida.

06/04/21


 

domingo, 4 de abril de 2021

1335

VIENTO Y LLUVIA



Un corazón que no quiere escuchar, desacredita la palabra.  Sus letras se convierten en banderas de colores, de papel de seda, pegadas y estiradas con un hilo, sobre el plaza de conversación, cruzando el aire de lado a lado.

Viene el viento y los desgarra, llega la lluvia y se deshacen en manchas de pintura, sobre el suelo rústico y vacío.

sábado, 3 de abril de 2021

 1334

UM SILÊNCIO GRITANTE




Tocou-a, tão de leve e profundamente, como se tocasse cordas afinadas e desconhecidas; com o mesmo respeito de um descobridor, que ao tocar uma preciosidade, o faz com devoção e amor.  

Com dedos hábeis, sorrateiro, tangenciou sonhos ambíguos, acordou desejos antigos e no silêncio do peito, retumbou uma alegria. Fez vibrar linda melodia, que nunca se tinha ouvido.  Um equilibrista, sobre um fino fio de metal prateado, contava e cantava ao mundo, estórias de abraçar e amar.

Os doces acordes e as notas marcantes, gravaram na memória, o que acontece, quando mãos habilidosas acariciam as cordas delicadas, de um instrumento feito com primor.

O tempo passou. O instrumento quieto a um canto e as mãos em repouso, agora ecoam um silêncio gritante ... e nunca mais ouviu-se sons tão bonitos.

03/04/21

1333

 O PESO DA LETRA




Qual é o seu peso?  Nenhum.  Uma letra em si não pesa, só se for feita de material robusto, daquele que usamos na confecção dos letreiros, para dependurar em fachadas de lojas, indústrias ou qualquer outro estabelecimento  Mas não é desse tipo de peso que eu falo.

Além do peso físico que uma palavra - formada de letras - pode ter ... ela carrega também um peso simbólico, que repercute primeiro nos ouvidos/olhos e depois no emocional de quem a ouve ou lê.

Se quando falamos de forma desrespeitosa conosco, sobre um defeito nosso - o efeito é certo - porque nossa mente, não distingue brincadeira de coisa séria(!) ...  ora, se nossos próprios ouvidos e mente, não são capazes de identificar nosso tom jocoso e relevar o que está sendo dito, o que dirá outros ouvidos/olhos e mentes, ao ouvirem gozações ou ofensas intencionais e deliberadas, embora possam vir carregadas de subterfúgios, para mascarar a real intenção ...

É desse tipo de peso que eu falo.  As letras juntas, podem formar verdadeiras bombas, quando caem sobre o território a que se destinam; senão matam, às vezes aleijam, para sempre.  Como podem construir lindos edifícios, íntegros e resistentes.

Costumamos não atentar para o efeito, de que cada palavra tem.  Num momento de descontrole emocional, somos capazes de ferir com expressões grotescas, no sentido de aplacar nossa raiva,  com relação à nossa impotência, perante insultos ou contrariedades. Na maioria das vezes, nos deixamos levar pelo tom de agressividade do outro, numa reação tão instantânea quanto espontânea, porque ainda não dominamos as técnicas de uma comunicação não violenta, porque ainda não somos senhores de nossas emoções.

Eu costumo dizer, que uma piada só é boa, quando todos riem e quando ninguém se sente desconfortável com a graça que se faz.  É inevitável - todas as palavras ganham vida e humores, ao final das contas elas são sentidas, como entidades que ganham identidade.  

Palavras impregnam a boca de quem fala, antes mesmo de atingirem, quem está no final da linha de comunicação, seja esta, verbal ou escrita.  Até uma verdade mais pura, se não souber ser misericordiosa, é capaz de ferir tão profundamente, quanto um diamante arremessado ao rosto.

03/04/21


quinta-feira, 1 de abril de 2021

 1332

ALGO CONJURADO




Perdi-me em asperezas e confrontos

senti certas estranhezas, diante dos desencontros.

... amei, mas qual parte de mim, é que amou?

... e o que foi aquilo?

Perante as conjecturas, obedeci às nomenclaturas

deletei iniquidades e enfrentei as adversidades.

... qual pedaço meu, era o que me faltava?

Colecionei lembranças ... zero esperanças!

... com quais olhos, que vi o que vi?

Um algo conjurado, sob o sol, tudo era dourado!

Na minha visão amarela, tudo fora escaldante 

a biga, os cavalos, as armas, tua pele e vestes

até a poeira, traiçoeira, cobrindo-te os olhos.

... sei bem, que cor eles têm!

... em que tempos isso se deu?

Já não sei, nunca soube, o que deu em mim

como explicar, como ordenar ou como catalogar!

Encontrei-me, em profundezas e certezas:

sei o que vi e senti, isso eu sei!

Só não sei, se fui encontrar-te em teu tempo

ou se viestes ao meu, como algo conjurado!

Talvez, nos tenhamos encontrado na metade

bem no meio do caminho, para depois voltarmos

aos tempos respectivos, aos quais pertencemos!

01/04/21


conjurado - combinado para determinado fim