sexta-feira, 28 de setembro de 2018

786 __ A PEDRA E A CORAGEM __ 28/09/18


arte | greg spalenka


Posso não ser 100 % responsável, pela pedra que caiu sobre mim, mas o sou, na sua totalidade, pela minha permanência sob ela.

O mínimo que posso fazer é, ter coragem em dar significado ao fato, o mais próximo possível do real. 

Contemplo um cenário de desolação, estragos a minha volta, coisas fora de seus lugares originários.  Muito pouco sobrou, ou quase nada de intacto, apenas eu.  Talvez não tão intacto assim por dentro, quanto estou por fora.

Estranho o fato de não me sentir tão tocado pela desolação, esse sentimento se dissipou e agora consigo olhar para tudo, através de olhos serenos e neutros.

Atravessei um vendaval, com seus ventos arrasadores e águas torrenciais, tremi aos seus raios e trovões, que abalaram a terra e sacudiram todas as coisas.

Me recuso a acreditar, que caminhei para dentro dele (o vendaval) de caso pensado.  Vendavais são feitos pela natureza, são grandes demais para mim, para que eu me responsabilize pela existência  deles, ou por seus estragos ... eu apenas posso deliberar sobre estar dentro, permanecer neles ou não.  Eu permitirei que eles me atravessem, se for pego sem sobreaviso outras vezes.

A minha intenção foi sempre, fugir das encrencas, dos cataclismos da vida, evitar as guerras insanas.  

Mas como se diz: "de boas intenções o inferno está cheio" ... talvez tenha passado pelo inferno, que ele tenha me sugado, ou que sem perceber, por ignorar as previsões climáticas, caminhei em direção a ele ... eu não sei!  

Eu o conheci, o inferno que o vendaval causou e seus rastros, a destruição atrás de si.  E inexplicavelmente, não quero aproveitar nada de seus escombros.  Foi preciso que eu o conhecesse, como acontece a todos os seres viventes e pensantes.

Eu me sinto como alguém, que antes pegou seus óculos novos e os embalou em plástico bolha, mas que agora depois de muito usados e insuficientes, não me importo que eles fiquem sobre a areia.

Só quero uma coisa, não pretendo andar pela vida, temendo as chuvas e os ventos, elas lavam e dão vida e eles renovam os ares. 



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