arte | cheiro de alecrim |
Tem sons, que só se ouvem no mais profundo silêncio, na verdadeira quietude do gesto e do pensamento - só assim, se permitem escutar, observar e conhecer.
As massas do ar à minha volta, esbarrando nas coisas. Meus dedos passando pela cabeleira grisalha do tempo. Todo movimento produz som.
O farfalhar das folhas vivas, instigadas por uma leve brisa, as secas, caídas ao chão em redemoinho ou ao serem pisadas. A seiva correndo no verde, os minérios se juntando em eras.
O sangue e linfa viajantes dentro dos seres vivos. O toque quente e pesado do sol sobre a minha pele.
Os átomos vibrantes, que a matéria esconde.
As águas serenas e as selvagens, emitindo seu rumor característico.
As palavras em prece, subindo aos céus.
O galope dos desejos sinceros, inclusive a pressa e urgência dos maus.
Os beijos mandados à distância.
As dores que gemem constantes, nas famosas 'juntas', e as que se lamentam pelas separações - todas tem uma voz.
São sons graves e agudos, ecos emitidos pela natureza, que nos chegam aos ouvidos, mas estes, um tanto deficientes, não escutam a tudo.
Há que se ter ouvidos de ouvir, enxergar e antever.
Os sons devem ser 'sentidos' muito antes de serem 'ouvidos'.
Recebemos orelhas para protegerem os ouvidos, para que estes nos façam ouvir bem, e mais do que isso, que nos façam entender, que nunca há silêncio.
A boca deve fazer muito mais do que falar, os olhos bem mais que enxergar, a pele mais que proteger, e os ouvidos devem estar atentos aos sons ainda, inaudíveis a eles.
Ao coração, não se aplica a mesma surdez - ele, que é um órgão capaz de respirar, pensar, falar, ver, proteger, escutar, além de simplesmente sentir e pulsar.
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