domingo, 2 de setembro de 2018

509 __ CHEIRINHO DE VÓ __ 02/09/17




Eu comi e sorvi de seu amor.  Muitas vezes, encostei a minha cabeça em seu ventre.  Mesmo estando do lado de fora dele e apesar de nunca ter estado dentro, eu podia sentir seu amor, nutrindo e acariciando-me, numa outra dimensão que não a física ... e que eu não entendia.

Eu era criança e minha estatura fazia coincidir a minha cabeça, com a altura de sua barriga ...  e lá muitas vezes me aninhei, quando precisei.

A lembrança disso trago comigo, o conforto, o calor, o entendimento tácito.  Ah que saudade!

Aonde quer que eu vá, todos os meus sentidos estão alertas, aos cheiros, sons, palavras e pensamentos que me remetem à sua presença... e me apercebo o quanto tenho dela em mim!  O quanto gostaria de ter ainda mais ... e não tenho!

Dia desses, ao entrar em um mercado, senti um cheiro de uma gostosura que saía do forno ou fogo, era algo sendo preparado na cozinha.  Eu me senti, como naqueles desenhos animados antigos, quando um personagem se deixa levar flutuando através do cheiro que exala da comida que gosta.  Eu tive que perguntar o que era que estavam fazendo naquela cozinha de tão bom, quem entrava também perguntava o que era ... ninguém soube dizer exatamente o que cheirava daquele jeitinho, tão bem.  Houve até uma discussão pra se chegar a um consenso sobre o que seria, alguma massa, recheio, alguma carne?

Aquilo pra mim foi automático, antes que eu pudesse pensar, eu me vi pequena, dentro da cozinha de minha vó, desamarrando o laço de seu avental, rodeando suas pernas, perguntando quando ficaria pronto o que ela fazia. 

Imediatamente, eu disse ... aos que como eu também questionavam o cheirinho delicioso que enchia o ambiente – é cheiro de lasanha de vó – então todos concordaram.  Naquele momento, todos os envolvidos nessa dúvida,  tenho certeza de que estávamos sendo remetidos à nossa infância, não éramos mais adultos discutindo, éramos crianças lambendo os beiços.



Eu me ajoelhei à frente dela 
- à lembrança dela – 
me fiz pequena, criança de novo, pra poder 
encostar a minha cabeça novamente em sua barriga ... 
e sentir o mesmo aconchego que ela nunca me negou. 
Eu senti o cheirinho do talco que ela usava no rosto, 
o cheiro do sabão que usava na roupa... 
como eram bons. 
Eu senti que ela também gostava do meu cheiro!

À minha querida vó Maria!


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