sexta-feira, 17 de novembro de 2017



 PANAPANÁ VERMELHO

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O vento de outono não precisava de pincel, ele usava a boca, pra soprar a quantidade que quisesse, sobre  as folhas do chão - as quais havia escolhido usar como tinta, pra pintar a sua tela.

A pintura era viva, ou quase, ao olhar do observador. Ela acontecia e se fazia sujeita, apenas à vontade do vento - ao seu bel prazer - que a modificava a cada lufada sua.

As folhas vermelhas rodopiavam em contraste ao chão branco de granito, em todas as direções, quantas vezes quisesse o pintor, fazendo desenhos aleatórios que podiam ameaçar sair do branco.

Se a obra fosse minha, eu a chamaria de 'Panapaná vermelho' - uma nuvem de borboletas vermelhas, sobre tela branca, onde era possível ver os furinhos de sua textura.

Nunca vira folhas dessa cor, mais pareciam flores, que propriamente folhas.

O páteo era parte de uma praça muito maior, as pilastras que o circundavam - como preciosa moldura - eram feitas do mesmo material, da mesma pedra, extraída das mais altas e milenárias montanhas.  As pilastras, ao inverso, eram baixas, pra que uma ou outra pessoa pudesse sobre elas debruçar-se.  


panapaná = nuvem, bando de borboletas


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