terça-feira, 28 de novembro de 2017


PSI __ 73 __ Minhas considerações



Como ajudar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe






Poucos quadros clínicos são tão complexos e desgastantes como o transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou borderline. Mas, além dos tratamentos, além da biogenia ou psicogenia, existe o cenário psicossocial do próprio paciente, onde seu ambiente pessoal e familiar não sabe o que fazer, o que não fazer, ou a forma de ajudar um ente querido que exige cuidados. Daí a questão deste artigo: como ajudar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe.
Muitas vezes, e quando se fala de doenças mentais ou de qualquer tipo de transtorno psicológico, nos limitamos a enumerar as características e a abordar as origens e os desencadeantes dos mesmos, esquecendo um aspecto chave. Deixamos de lado o universo pessoal e relacional dessa pessoa: goste ou não, ela está perdida, sufocada e encurralada nas grades da sua própria mente.

“O transtorno de personalidade limítrofe ainda não é bem compreendido. Encontramos pessoas incompreendidas e que vão de um terapeuta a outro se confundindo e se desesperando cada vez mais.”

 -Dolores Mosquera-


Qualquer especialista em psicologia sabe que nada é tão desafiador e complicado de avaliar e tratar como os transtornos da personalidade. Há uma grande sobreposição sintomática, muitos falsos positivos (pessoas que recebem um diagnóstico errado) e, embora os manuais de diagnóstico, como o DSM-V, ajudem a esclarecer algumas características, o imenso labirinto psicopatológico apresentado pela maioria deles, e em especial o transtorno de personalidade limítrofe, é muitas vezes ignorado. É por isso que é tão complicado saber como ajudar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe.
As famílias que tenham uma pessoa diagnosticada com essa condição sabem que nem tudo o que seu ente querido faz ou sofre aparece nos livros. Na maior parte das vezes, o alvo e as vítimas diretas de cada instabilidade, das ideias paranoicas, dos vazios existenciais e de seus pensamentos dicotômicos são aqueles que estão mais próximos, aqueles que mais amam… Portanto, é necessário que estejamos mais presentes no ambiente familiar das pessoas com transtornos psicológicos.

Características gerais das pessoas com transtorno de personalidade limítrofe

As pessoas com transtorno de personalidade limítrofe (TPL) são caracterizadas por apresentar um padrão de instabilidade em seus relacionamentos interpessoais, sua autoimagem e afetividade.
  • Suas mudanças de humor são extremas.
  • Podem passar de idealizar seus entes queridos para desvalorizá-los e humilhá-los.
  • Apresentam comportamentos impulsivos e irracionais.
  • Têm sentimentos crônicos de vazio e sensação de abandono.
  • Têm ideias paranoicas ou sintomas dissociativos transitórios.
  • Geralmente apresentam comportamentos de autolesão e tendências suicidas.
  • Usam um excesso de mecanismos de defesa, tais como a negação ou a projeção, o que dificulta ainda mais a tomada de consciência de sua doença e sua capacidade de assumir a responsabilidade por si mesmos.
É importante assinalar que, assim como ocorre em muitas outras condições psicológicas, o transtorno de personalidade limítrofe não tem uma “cura mágica”. Não existe uma terapia infalível que desative a montanha-russa de suas mudanças de humor, de seus extremos, de seus medos e vazios. O que temos ao nosso alcance são diferentes tipos de tratamento onde podemos conseguir algo essencial: fazer com que recuperem a estabilidade emocional e melhorem a qualidade de seus relacionamentos. Este é o primeiro passo para saber como ajudar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe.

Há um aspecto essencial que não podemos deixar de lado: o apoio familiar é básico nesses casos em que existe uma doença mental. Devemos oferecer estratégias de enfrentamento adequadas ao ambiente pessoal para que aprendam a conviver e a ajudar o ente querido.

Como ajudar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe

As pessoas próximas ao paciente com transtorno de personalidade limítrofe costumam se sentir culpadas de alguma forma. Elas carregam dúvidas infinitas, se responsabilizam pelas recaídas, pelas autolesões, por não terem intuído isso ou aquilo, por não terem escolhido bem as palavras em determinado momento… Se somos familiares ou amigos, em primeiro lugar é primordial levar esses três aspectos em conta:
  • Nós não causamos o transtorno.
  • Nós não podemos curá-lo.
  • Nós não podemos controlá-lo.
Uma vez que esses aspectos estiverem esclarecidos, vamos ver o que podemos fazer para ajudar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe. Vamos seguir as orientações práticas:
  • Nada é tão importante como entender o que está acontecendo e por que o meu familiar age desta forma.
  • Assim como assinalamos no início, esta doença é um amálgama de psicopatologias tão complexas quanto devastadoras. Às vezes, juntamente com o próprio transtorno, pode aparecer depressão, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade, distúrbios alimentares, abuso de substâncias…
  • É essencial conhecermos todos os sintomas e características.
  • Da mesma forma, e apesar de o transtorno de personalidade limítrofe ser tratável, é comum que estes pacientes evitem e ignorem qualquer ajuda.
  • Portanto, é essencial que sejamos a favor a adesão às terapias e aos tratamentos farmacológicos.


Aprenda a se comunicar com seu familiar

As pessoas com transtorno de personalidade limítrofe podem dizer coisas cruéis e irracionais. Elas têm medo de serem abandonadas e deixadas de lado, por isso explodem em acessos de raiva e abuso verbal.
  • Os especialistas indicam que é como ter dislexia auditiva”. Eles ouvem as palavras desordenadas, de dentro para fora, de lado e sem contexto.
  • Quando se mostram verbalmente agressivos, temos que dizer que “agora não é um bom momento para conversar, que eles são importantes para nós e que para poder ajudá-los, é melhor falar quando estiverem relaxados”.
  • Quando estiverem calmos, temos que nos fixar mais em suas emoções do que em suas palavras para os validar, para conciliar afetos e prestar ajuda.
  • Não importa que o que digam não tenha sentido ou pareça irracional. Devemos conseguir fazer com que se sintam ouvidos e apoiados.
  • Se em algum momento eles voltarem a cair no ataque ou na agressão, o melhor a fazer é se afastar antes de começar uma discussão com eles e intensificar ainda mais o sintoma.

Estabelecer limites saudáveis com a pessoa com transtorno de personalidade limítrofe

Uma das formas mais eficazes de ajudar um ente querido com um transtorno de personalidade limítrofe é conseguir que ele alcance um controle sobre seu comportamento. Para isso, faremos com que ele cumpra certos limites onde pode se regular e, acima de tudo, entenda que deve continuar com seu tratamento.
  • Todos os membros da família devem estar de acordo com esses limites e essas normas.
  • Devemos estabelecer o que é e o que não é permitido.


Devemos indicar com afeto o que não é permitido à pessoa com transtorno de personalidade limítrofe: “nós amamos você e desejamos que isso funcione. Para isso, você deve entender que se falar assim conosco ou fizer essas coisas, você magoa a si mesmo e a nós. Não podemos aceitar isso. Peço que você faça essa mudança por você e por nós”.




O que NÃO podemos fazer com a pessoa com transtorno de personalidade limítrofe


  • Ameaçar ou dar ultimatos.
  • Tolerar o comportamento abusivo.
  • Permitir que abandone o tratamento.
  • Não podemos ignorar suas ameaças de suicídio.
Para ajudar alguém com transtorno de personalidade limítrofe, primeiro você tem que cuidar de si mesmo. Para isso:
  • Não devemos nos isolar e reduzir toda a nossa vida ao redor da pessoa com transtorno de personalidade limítrofe.
  • Não podemos descuidar da nossa saúde.
  • Podemos recorrer a grupos de apoio com outros familiares na mesma situação.
  • Temos que aprender técnicas para gerenciar o estresse.

Para concluir, alcançar essa aliança terapêutica entre o paciente, sua família e os profissionais que tratam a pessoa não é simples, mas não é impossível. Ajudar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe é um desafio diário, um caminho cheio de altos e baixos, mas gratificante no fim das contas, quando conseguimos neutralizar a impulsividade e fazer com que ela tome decisões mais racionais do que emotivas. Conseguir vínculos mais saudáveis e a melhoria nesses pacientes é um trabalho que envolve a todos, onde somos todos agentes ativos em um mesmo objetivo: ajudar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe.





73 __ Minhas considerações


Excelente artigo.  

A maior dificuldade é a família compreender que deve se mobilizar no sentido de que,  tem que aprender a lidar com esse indivíduo, porque o problema não é só dele, é do núcleo familiar, do sistema. como um todo.

Isso geralmente, não é fácil, porque se uma pessoa da família está disposta a aprender a respeito, existem outros membros que se negam a encarar essa necessidade, chegando até a negar que exista conflito.

Dentro do mesmo ambiente, teremos a aplicação de duas dinâmicas, uma que funciona e outra que só piora as coisas.  É como se no mesmo país, houvesse  mais de um idioma, sem possibilidade de tradução.

Dessa forma, usando-se a dinâmica que não funciona, há a tentativa de mudar a situação à força, como se fosse 'falta de limites' ou 'frescura' da pessoa que apresentou o transtorno, esquecendo-se de que ela é apenas o sinalizador de que algo não vai bem, a ponta do iceberg.

A responsabilidade é de todos, portanto o dever também é de todos, de fazerem movimentos no sentido de aprenderem com a situação, buscando retomar o equilíbrio do sistema.

Além do estresse gerado pela situação, haverá muito sentimento de inadequação.  Estaremos sujeitos à manipulações, se não houver um conhecimento de como funciona o transtorno.

É preciso conhecer sobre o problema, pra saber como lidar com a pessoa, e como lidar a com nossa impotência.

A afetividade e a assertividade são imprescindíveis, bem como a colocação de limites.  A família deve se comprometer em dar apoio.

Em muitos casos, será necessário um acompanhamento psicológico e até psiquiátrico, a todos os envolvidos, não só pra pessoa com o transtorno.









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