sábado, 25 de março de 2023

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DUALIDADE

São dois segmentos ou dois espaços, com claridades e sombras diferentes, num deles é sempre noite.  De um lado as imagens são concretas, no outro impalpáveis, mas nem por isso irreais e não menos sensíveis.

Duas facetas, se assim posso dizer, realidades independentes entre si e quase que paralelas, não fossem totalmente opostas, levando-me a destinos diferentes, embora sigam na mesma direção. Eu sou o elo de ligação entre as duas ... assim não fosse, acabariam por desaparecer das vistas uma da outra.  Essa dualidade me divide e não sabe me recompor na sequência.  Eu vivo aqui e ali, em condensação de meu desejo numa, e em sua dispersão na outra.  Transito entre as duas, mas não tenho certeza se realmente vivo.

Ouço a voz que consegue subsistir entre os dois lados - adoradora do sol e amante da lua, que dança e uiva alternadamente; enquanto clama, em desespero contido, para que os dois se unam e formem um só ... ou que um mate o outro, de vez, para que assim eu não me perca dentro de mim mesmo.  Nessa zona de hesitação não há completude, nem sanidade, esse ir e vir cava sulcos profundos na minha integridade.


arte __ agnes cecile

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