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UMA BRINCADEIRA MUITO SÉRIA
Escrever é como brincar. Colocadas as palavras, uma atrás da outra, tenho um trenzinho. Se as fizer, darem as mãos, entoarão uma cantiga de roda. Passando por elas um fio, posso desfiar um rosário ou montar um bonito colar para enfeitar o pescoço. Dou linha às pipas, brinco com origamis ou com ferro quente.
As palavras podem levantar um castelo, para o sonho viver; juntar tijolo por tijolo, um sobre o outro e construir um edifício, para a realidade morar. Podem também, fazê-los implodir - castelos e edifícios - sem nem mesmo apontarem um culpado.
Podem ser uma brisa cantante, com rima ou não; um lamento velado ou um desespero gritado e maldizente - um afago ou punhal. Um vendaval que sacode árvores e levanta saias, revira as coisas para depois arrumarmos ... levam as sementes para longe, mostram as fragilidades e forçam um recomeço.
São condensação das ideias que pairam por sobre as cabeças de muitos, porém só a quem as escreve, permitem ordenarem-se. Formadoras de opinião, riscam uma linha de pensamento, com conteúdo, sentido e continuidade - de início tracejada, mas são apenas o começo de um novo mundo, uma mudança, talvez.
Descrevem a história, mostram os fatos, os costumes de época, enquanto confessam os anseios.
Embora sempre sinceras, contam verdades duras e mentiras suaves ou amenizam as verdades e intensificam as mentiras.
Às vezes, são a melhor terapia, o único ouvido que se dispõe a nos ouvir, no momento.
Contam, inventam, aumentam, agradecem, desejam. São o ar, que entra e sai dos meus pulmões, tão primordial à vida. Vão muito além das carícias na pele, tocam a alma, transpassam a essência e ascendem ao infinito, se perpetuam na posteridade.
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