sexta-feira, 18 de junho de 2021

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FRONTEIRA DO DESCONHECIDO




Eu era a própria 'Melancholy'.  Naquela hora, o meu tórax vazado era uma janela, melhor dizenddo ... um portal, por onde o vento passava e repassava, ao seu bel prazer.  Acredito que qualquer outra coisa, viva ou não, poderia passar pelo buraco, sem que eu me desse conta ou sentisse alguma dor.  Embora parecesse não estarem lá, sentia gelar, os órgãos, os músculos, nervos e pele. 

A sensação não era de melancolia, era de um imenso vazio, um vazio de vida que se esvaia, invisivelmente, por um grande ralo (?) ou por uma fenda proposital e artificial - que até onde eu sei, não havia sido cavada por mim.  Era quase possível, que se enxergasse o outro lado, tamanha era a falta de continuidade.

Demorou um certo tempo - bem razoável, até que o calor me devolvesse à percepção de presença completa, de todo o meu corpo, como um conjunto de sistemas interligados.  Sem dúvida foi uma experiência muito bizarra e inimaginável, por mais fértil que seja minha imaginação.



'Melancholy' - escultura de metal de Albert György, datada de 2012 - às margens do Lac Léman em Genebra/Suíça


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