sábado, 13 de janeiro de 2018


EM ALTO E EM BOM SOM
602








O pessoal da iluminação já está a postos, aos poucos vai iluminando o palco, tirando-o do escuro.

O refletor maior, aumenta sua potência, gradativa e vagarosamente, não tanto quanto eu gostaria, mas tenho que admitir que ele não tem pressa alguma.  Como todos os dias - obedece um cronograma bem ensaiado, de acordo com o programa.

A vida acontece debaixo da minha janela, nessa ordem - os pássaros, os carros, as vozes masculinas, o toc-toc-toc dos saltos das mulheres subindo e descendo a rua.  À medida que as luzes se acendem, chegam mais 'figurantes'.

Eu, na minha cabeça, repasso as minhas falas. Não sei bem como me sairei ao certo, pois os diálogos acabam se dando de improviso.

E como protagonista disciplinada que sou, sem me fixar muito no que acharão de minha performance em cena, mas antes de mais nada, tenho a firme intenção, de permanecer fiel à minha persona. 

Treino a minha capacidade de subverter o script, se preciso for, de vez em quando, sem prejuízo ao conteúdo do espetáculo.

Não serei rígida, porque de rigidez ninguém se mantém, ao contrário, se quebra, se destrói.

Vou ocupar-me do que me é pertinente - das minhas falas e atuações, dos meus improvisos, quando necessários, fazendo com que façam sentido dentro do tema.

Seguirei um roteiro mais ou menos pré-estabelecido, esse é o meu propósito, com algumas mensagens que não posso deixar de passar.

Sei que por vezes, serei levada para bem longe de onde esperarei estar, mas tentarei não me perder de mim mesma.

Sem o constrangimento de atuar conforme acredito.  Devem estar em sintonia, o sentir e o agir, e mesmo que isso cause certa vergonha aos outros, ela não será minha.

O semáforo se fechou bem na minha vez de passar, para que algo fosse evitado, ou para que eu pudesse ir ao encontro do que era necessário.  Uma fração de tempo que muda tudo! 

Porque, para um que não quer, há outros tantos que anseiam desesperadamente!

Olharei no espelho, se tiver, sem me sentir incomodada de uma possível dissonância entre o sentir e agir, que porventura ainda haja.  E mesmo que eu seja condenada, não me apropriarei da vergonha, que como disse, não é minha.

Não me assistam com tantas expectativas, pois sou humana, permito-me errar, deem-me também esse direito!

A despeito de tudo o que está envolvido, vou impostar a minha voz e articular minhas falas em alto e em bom som!





Faço uma alusão ao teatro, quando o comparo com a vida (palco), refletor maior (sol), as pessoas como figurantes e a mim mesma como protagonista.




Nenhum comentário:

Postar um comentário