sábado, 20 de maio de 2017


PSI  __________________________  Fragmentos - 442 - O que te pertence



O que pode representar ter filhos com o abusador narcisista perverso?
Silvia Malamud




Se o abusador já a capturou emocionalmente, mas ainda assim existem sussurros em seus ouvidos de que algo não está contento e se você for o alvo certeiro de tal sequestrador, esteja certa de que ele irá às alturas para te dominar por completo. 

Fique esperta porque se todas as demais armas manipulativas de sedução e de conquista falharem, ter um filho com você poderá representar a solução para que o cárcere tão desejado, finalmente se instale.

O amor, o apego e o sacrifício dados aos filhos são argumentos dos mais perigosos que tais abusadores costumam fazer uso. 

Classifico-os como narcisistas perversos e psicopatas, mas confesso que hoje em dia tenho uma forte suspeita de que pelo grau de inconsciência emocional e moral de ambos, estes termos tem se demostrado versões do mesmo conteúdo psicológico, variando no grau e na intensidade das crueldades manifestas. É certo que existem inúmeras nuances onde o narcisismo, embora patológico, dá dicas de que o protagonista está mais desperto e de que pode fazer alguma reflexão sobre os seus atos. Não é o comum, mas tenho presenciado alguns pouquíssimos casos dessa ordem em meu consultório.

No caso das vítimas que acabam gerando filhos de tais narcisistas, o desenvolvimento na trama familiar ocorrerá em torno de uma mãe que visa proteger os filhos para que estes também não sejam reféns dos abusos. 

Outra faceta deste esquema acontece nas vezes em que ela ansiosamente busca proteger-se da fúria narcísica do parceiro, na medida em que ele tenta fazer aliança com os filhos em detrimento à ela, em meio à desqualificação massiva. O risco será dos filhos, por medo ou por necessidade de terem um modelo de pai, se identificarem com o agressor sem criarem referências saudáveis nem sobre o pai e nem sobre a mãe abusada.

Outra consequência drástica de ter filhos com o predador pode ser o aceleramento do rompimento com tudo que gere recursos e na sequência, a total dependência financeira. Se a parceira tiver posses, será o momento derradeiro do sequestrador deitar e rolar em suas finanças sugerindo parcerias em negócios, ou que ela ofereça a maior parte das suas posses, se não toda, a fim de que os filhos fiquem mais amparados, posto que ela precisa ficar em casa para cuidar deles. O recado é que se ela trabalhar, não conseguirá cuidar bem dos filhos, como tantas mulheres fazem quando os tem. 

No final, se ela não for esperta, ficará sem nada e ele crescerá cada vez mais em seus comportamentos despóticos, incluindo severas alterações de humor e castigos emocionais que sempre virão sob a ameaça do abandono. Tanto as imposições, como as invenções de verdades a respeito do funcionamento da parceira tem como objetivo transformá-la num ser totalmente cordato e obediente, mas que ainda assim se sentirá devedora, porque por mais que se esmere, sempre estará no alvo de criticas depreciativas que inventam uma realidade onde ela jamais será suficientemente boa.


Dicas necessárias de sobrevivência ao iniciar qualquer tipo de relacionamento:

Por mais carente que você possa estar, desde o início jamais banalize situações que lhe causem o mínimo de desconforto. 

Toda percepção de que algo não vai bem a principio são informações certeiras a respeito do que pode ser o futuro do relacionamento. 

Como dica essencial, seja bastante observadora antes de se abrir afetivamente.

Um aspecto interessante de se notar é se, logo de início, você não se encanta com a pessoa e por insistência dele ou não, ainda assim faz uma tentativa mental de aceitação sem levar em conta o que o seu coração e o seu sentir estão lhe dizendo. Se não fizer nada a respeito, saiba que num segundo momento dessa situação, o seu sequestrador reconhecerá que ganhou espaço, pois você mostrará ser uma presa fácil na medida em que ele percebe que, ao insistir um pouco mais, facilmente você passa por cima de si mesma não levando a serio suas percepções. Com isso, o seu terreno psicológico fica exposto e ele rapidamente avançará semeando seus conteúdos emocionais ditadores em áreas que deveriam ser somente suas.


Se acaso cair nessa roubada, vale lembrar que nenhum relacionamento lesivo, por mais vínculos que se possa ter, necessita durar para sempre e que inclusive pode ser reconfigurado de diversas maneiras desde que você esteja desperta e lúcida para promover as ações necessárias fora deste ciclo tóxico. Se sentir que precisa, não hesite em buscar ajuda terapêutica competente, que com toda certeza valerá a sua vida.

Quanto mais despertos, melhor!
*Obs: Não existe priorização de gêneros tanto nas vitimas, como nos abusadores.







______________ Fragmentos 442 - O que te pertence - 28/04/17


Deus me livre do vermelho enfurecido dos teus olhos.  Da tua raiva desmedida.  Tenho medo do que sai da tua boca.  Sinto que escuto o que não é dirigido a mim -  falas de ti e dos teus conflitos - enquanto canalizas a mim a tua ira, por aquilo que deixei de fazer, ou por qualquer outro motivo, me fazendo crer que sou a culpada por tua indignação e desconforto.
Cansei de viver em guerra, de hostilidades por nada,
de ser teu pára-raio, de tentar entender,
porque enquanto eu ‘entender’
...  não farás nada para mudar.
Procura dentro de ti, a nascente dessa fúria, tenhas coragem de te banhares nela, admitir que dela emanam chispas e que se avolumam bem antes de se tornar o rio que passa por mim.
O que fiz foi só, espelhar e refletir, o que queres ignorar
e não aceitas como teu!
Não carregarei o teu fardo, por nem mais um segundo,
entrego-te do jeito que ele é, nem maior e nem menor.
Tu ficas com o que é teu, eu tomo o que é meu!




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