O Intestino
Tem depressão? Tem
alergias? Tem asma? O bebé nasceu de cesariana e anda sempre doente? Acha que o
intestino não está relacionado com nenhum destes assuntos?! Se calhar é melhor
ler este artigo…
Já no final do século
passado o Dr. Michael D. Gershon (professor de anatomia e biologia celular)
lançou um livro, “O Segundo Cérebro”, a relatar a importância que este órgão
tem no nosso organismo, mas que a comunidade médica teima em desvalorizar (à
exceção dos gastroenterologistas) e a considera-lo um órgão “secundário”. Neste
últimos meses têm surgido mais publicações (felizmente!) relacionadas com o
intestino.
Logo para se ver a sua
importância, nas primeiras semanas do desenvolvimento embrionário, quando as
células começam a fazer a diferenciação a que órgão vão pertencer, o sistema
nervoso e o intestino são das primeiras estruturas que começam a aparecer, ou
seja, há uma grande ligação logo de início entre o cérebro e o intestino.
Em números, o intestino tem
quase a mesma quantidade de neurónios que o cérebro, e consegue ter mais do que
a espinal medula. O intestino tem um sistema de controlo quase autónomo, o que
permite que este funcione mesmo quando o cérebro esteja afetado, isto é, mesmo
que a pessoa esteja em coma, o intestino continua “na dele” a funcionar e a
digerir os alimentos.
O intestino é a nossa
primeira barreira de defesa, em que mais de 2/3 do sistema imunitário se
encontra aí. Podemos ver quando comemos algo estragado, a reação do organismo é
logo vomitar ou provocar uma diarreia.
Além do mais, o microbioma
ou microbiota intestinal (antigamente chamado de flora intestinal) também atua
como sistema imunitário, rejeitando tudo o que seja nocivo para o nosso
organismo. Temos centenas, e possivelmente milhares, de estirpes (espécies) de
bactérias boas no nosso intestino, são elas que compõem o nosso microbioma
intestinal, e já há médicos e cientistas que começam a considera-lo mais um órgão
do nosso organismo, já que todas somadas podem chegar a pesar 2 kg!
O microbioma intestinal é
essencial para a nossa sobrevivência, além de funções defensivas, é igualmente
responsável pela transformação dos alimentos na digestão, fazendo com que sejam
melhor absorvidos, mas também algumas bactérias são produtoras de vitaminas,
como a B12 e K.
A serotonina, um
neurotransmissor que muitas vezes é chamado de “hormona da felicidade” já que
modula no nosso humor e consegue ajudar no controlo do ritmo circadiano e do
sono, tem a sua principal produção no intestino, responsável por 95% da sua
produção, e uns meros 5% só no cérebro. Estudos indicam que a serotonina está
igualmente ligada a problemas relacionados com ansiedade, depressão, obesidade,
enxaqueca e esquizofrenia. Já está a ver se o intestino não está bom, até que
ponto nos pode influenciar?!
Mas ainda não ficamos por
aqui!
Além da serotonina, ainda
são produzidos mais de 30 neurotransmissores no intestino, que controlam as
mais diversas funções que se possam imaginar.
Há 3 “bióticos” importantes
no intestino:
§
antibióticos – são contra a
vida, são os medicamentos que utilizamos que utilizamos para combater as
infeções que o nosso sistema imunitário não consegue combater. Mas estes
antibióticos não matam só os agentes patogénicos, eles matam igualmente as
nossas bactérias boas;
§
probióticos – são a favor
da vida, são as bactérias que podemos ingerir que vão reforçar o microbioma
intestinal, e podemos consumir alguns alimentos fermentados que contenham essas
bactérias;
§
prebióticos – são o
alimento da vida, geralmente são fibras que alimentam os probióticos. Os mais
conhecidos são os Fruto-oligossacarídeos e os Galacto-oligossacarídeos.
Hoje em dia no mercado já
existe os chamados simbióticos, que são uma mistura dos probióticos e os
prebióticos, simbióticos estes que devem ser sempre associados a uma
toma de antibióticos.
Os probióticos são bastante
úteis quando fazemos alguma suplementação ou outra medicação, pois geralmente
facilitam a absorção dos componentes necessários.
O nosso microbioma
intestinal vai-se contruindo ao longo da vida, e já foram feitos estudos que
encontraram algumas bactérias logo no micónio (as primeiras “fezes” do recém
nascido), mas elas são adquiridas logo no momento do parto, quando o bebé passa
pela vagina, sendo “infetado” pelas bactérias da mãe. Daí a importância do parto
natural em vez da cesariana, pois isso irá prevenir futuras doenças na criança,
e até mesmo em adulto. Caso o bebé nasça de cesariana, pode-se desde logo
começar com uma suplementação em probióticos adequado para os primeiros meses
de vida.
Um bom microbioma
intestinal desde jovens, tem sido conotado com menos casos de asma nas crianças
e em adulto.
Há outros problemas que
estão associados a uma síndrome chamado de intestino poroso. O intestino poroso
é quando no intestino há pequenas fendas, que deixam passar moléculas ou outras
impurezas para o sangue, causando assim respostas inflamatórias no organismo.
Este intestino poroso tem
sido igualmente ligado às doenças autoimunes (Esclerose Múltipla,
Artrite Reumatóide, Psoríase, Lúpus, etc.) e à reações alérgicas. O Leite (já falado) e o Glúten (sendo o trigo o pior inimigo, também já
discutido) são os mais conhecidos, podendo levar a graves sintomas. Esta
alergia ao glúten é conhecida como a Doença Celíaca. Hoje em dia há cada vez
mais pessoas com Doença Celíaca, mas há também cada vez mais pessoas com
pequenas intolerâncias ao glúten, que se manifesta com barrigas inchadas ao fim
do dia, fadiga, até mesmo problemas de concentração!
Daí que uma das minhas
principais preocupações com os meus pacientes é que estes tenham um intestino
bom, que se o intestino estiver em boas condições, será muito mais fácil
recuperar a boa saúde.
Havia muito mais para se
falar do intestino, mas penso que por aqui já ficamos com uma vista bem
alargada da importância. Por isso vamos tratar bem do nosso intestino, é por
ele que nos alimentamos, mas é igualmente ele responsável por nos proteger e
manter bem-dispostos! Como já referi anteriormente, comam fruta e muitos
legumes!
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