quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O Intestino





Tem depressão? Tem alergias? Tem asma? O bebé nasceu de cesariana e anda sempre doente? Acha que o intestino não está relacionado com nenhum destes assuntos?! Se calhar é melhor ler este artigo…
Já no final do século passado o Dr. Michael D. Gershon (professor de anatomia e biologia celular) lançou um livro, “O Segundo Cérebro”, a relatar a importância que este órgão tem no nosso organismo, mas que a comunidade médica teima em desvalorizar (à exceção dos gastroenterologistas) e a considera-lo um órgão “secundário”. Neste últimos meses têm surgido mais publicações (felizmente!) relacionadas com o intestino.
Logo para se ver a sua importância, nas primeiras semanas do desenvolvimento embrionário, quando as células começam a fazer a diferenciação a que órgão vão pertencer, o sistema nervoso e o intestino são das primeiras estruturas que começam a aparecer, ou seja, há uma grande ligação logo de início entre o cérebro e o intestino.
Em números, o intestino tem quase a mesma quantidade de neurónios que o cérebro, e consegue ter mais do que a espinal medula. O intestino tem um sistema de controlo quase autónomo, o que permite que este funcione mesmo quando o cérebro esteja afetado, isto é, mesmo que a pessoa esteja em coma, o intestino continua “na dele” a funcionar e a digerir os alimentos.
O intestino é a nossa primeira barreira de defesa, em que mais de 2/3 do sistema imunitário se encontra aí. Podemos ver quando comemos algo estragado, a reação do organismo é logo vomitar ou provocar uma diarreia.
Além do mais, o microbioma ou microbiota intestinal (antigamente chamado de flora intestinal) também atua como sistema imunitário, rejeitando tudo o que seja nocivo para o nosso organismo. Temos centenas, e possivelmente milhares, de estirpes (espécies) de bactérias boas no nosso intestino, são elas que compõem o nosso microbioma intestinal, e já há médicos e cientistas que começam a considera-lo mais um órgão do nosso organismo, já que todas somadas podem chegar a pesar 2 kg!
O microbioma intestinal é essencial para a nossa sobrevivência, além de funções defensivas, é igualmente responsável pela transformação dos alimentos na digestão, fazendo com que sejam melhor absorvidos, mas também algumas bactérias são produtoras de vitaminas, como a B12 e K.
A serotonina, um neurotransmissor que muitas vezes é chamado de “hormona da felicidade” já que modula no nosso humor e consegue ajudar no controlo do ritmo circadiano e do sono, tem a sua principal produção no intestino, responsável por 95% da sua produção, e uns meros 5% só no cérebro. Estudos indicam que a serotonina está igualmente ligada a problemas relacionados com ansiedade, depressão, obesidade, enxaqueca e esquizofrenia. Já está a ver se o intestino não está bom, até que ponto nos pode influenciar?!
Mas ainda não ficamos por aqui!
Além da serotonina, ainda são produzidos mais de 30 neurotransmissores no intestino, que controlam as mais diversas funções que se possam imaginar.
Há 3 “bióticos” importantes no intestino:
§  antibióticos – são contra a vida, são os medicamentos que utilizamos que utilizamos para combater as infeções que o nosso sistema imunitário não consegue combater. Mas estes antibióticos não matam só os agentes patogénicos, eles matam igualmente as nossas bactérias boas;
§  probióticos – são a favor da vida, são as bactérias que podemos ingerir que vão reforçar o microbioma intestinal, e podemos consumir alguns alimentos fermentados que contenham essas bactérias;
§  prebióticos – são o alimento da vida, geralmente são fibras que alimentam os probióticos. Os mais conhecidos são os Fruto-oligossacarídeos e os Galacto-oligossacarídeos.
Hoje em dia no mercado já existe os chamados simbióticos, que são uma mistura dos probióticos e os prebióticos, simbióticos estes que devem ser sempre associados a uma toma de antibióticos.
Os probióticos são bastante úteis quando fazemos alguma suplementação ou outra medicação, pois geralmente facilitam a absorção dos componentes necessários.
O nosso microbioma intestinal vai-se contruindo ao longo da vida, e já foram feitos estudos que encontraram algumas bactérias logo no micónio (as primeiras “fezes” do recém nascido), mas elas são adquiridas logo no momento do parto, quando o bebé passa pela vagina, sendo “infetado” pelas bactérias da mãe. Daí a importância do parto natural em vez da cesariana, pois isso irá prevenir futuras doenças na criança, e até mesmo em adulto. Caso o bebé nasça de cesariana, pode-se desde logo começar com uma suplementação em probióticos adequado para os primeiros meses de vida.
Um bom microbioma intestinal desde jovens, tem sido conotado com menos casos de asma nas crianças e em adulto.
Há outros problemas que estão associados a uma síndrome chamado de intestino poroso. O intestino poroso é quando no intestino há pequenas fendas, que deixam passar moléculas ou outras impurezas para o sangue, causando assim respostas inflamatórias no organismo.
Este intestino poroso tem sido igualmente ligado às doenças autoimunes (Esclerose Múltipla, Artrite Reumatóide, Psoríase, Lúpus, etc.) e à reações alérgicas. O Leite (já falado) e o Glúten (sendo o trigo o pior inimigo, também já discutido) são os mais conhecidos, podendo levar a graves sintomas. Esta alergia ao glúten é conhecida como a Doença Celíaca. Hoje em dia há cada vez mais pessoas com Doença Celíaca, mas há também cada vez mais pessoas com pequenas intolerâncias ao glúten, que se manifesta com barrigas inchadas ao fim do dia, fadiga, até mesmo problemas de concentração!
Daí que uma das minhas principais preocupações com os meus pacientes é que estes tenham um intestino bom, que se o intestino estiver em boas condições, será muito mais fácil recuperar a boa saúde.
Havia muito mais para se falar do intestino, mas penso que por aqui já ficamos com uma vista bem alargada da importância. Por isso vamos tratar bem do nosso intestino, é por ele que nos alimentamos, mas é igualmente ele responsável por nos proteger e manter bem-dispostos! Como já referi anteriormente, comam fruta e muitos legumes!


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