________________________ Fragmentos 309
Implícito _____________________________
Seria de nostalgia romântica, se não fosse – sabidamente -
algo tétrico e mortal de se ver.
A cena se passa no tempo em que eram desconhecidos os efeitos
nocivos do fumo, embora já se soubesse
que o abuso do álcool poderia acabar com a vida de quem o ingere, e de outros tantos a volta.
Um cigarro dançava na boca entreaberta, anéis de fumaça
subiam ao teto, pequenos, grandes, em sequência ou solitários. Olhos fixos e baixos, ali prostrado, nas mãos,
um copo de uma bebida forte o suficiente para anestesiar. Dentro dele, cubos de gelo também dançavam -
ilhas suspensas num oceano envelhecido - onde podia-se imaginar em cima de
alguma delas, algum animalzinho em extinção, pedindo socorro. Ao menos, era isso que os seus olhos vidrados
viam, sem apresentar características humanas, porque pareciam um espelho, feito
do material inorgânico de que lhe é próprio.
Ele conseguia ver-se, naquele cubo de gelo, acuado e apavorado, a
mendicar ajuda. Imaginava-se, lá em meio
ao líquido, fazendo anéis de fumaça com a boca, porque não tinha como fazer
fogo em cima do gelo.
Na sua imaginação,
ele desenhava com a boca - as letras S.O.S.
Nenhum comentário:
Postar um comentário