1559
AMANHÃS
Eu vi o tempo passar, diante dos meus olhos, até eu
confundir os dias e meses entre si, em sobreposição, debaixo do meu nariz. A inicial empolgação e ansiedade pela
proximidade de finais de semana, deu lugar ao temor, quando uns, começaram a se encostar aos outros, me deixando sem tempo de fazer o que precisava ser feito, nos outros
dias da semana.
Pensei que os dias me pertenciam, na verdade, eram eles que
me tinham sob controle, pela velocidade com que rodavam, numa ciranda
frenética. Nem sei quando comecei a dar
conta disso, nem quando acordei para o fato, de estar cada vez mais perto do
fim e mais distante do começo.
Vendi muito ‘hojes’ para comprar ‘amanhãs’, barganhei para adquirir
‘pacotes’, que nem sempre me foram entregues como o ‘esperado’. Ah ... quantas vezes, comi cru e deixei
esfriar uma delícia macia! Por coisas ‘futuras
e incertas’, desprezei os ‘presentes’ que tinha em mãos, para tentar agarrar
balões imaginários.
Hoje, respeito o meu próprio tempo, já não corro mais ao
encontro do tempo, relaxo e deixo que ele me encontre, ao tempo dele, num encontro mais casual. Já não tenho mais pressa, ando com pés
firmes, sobre as calçadas irregulares e perigosas, com atenção onde piso, sem
ignorar as belezas do meu entorno, é claro!
O tempo passou sobre mim, como um rolo compressor, como
passa por cima de tudo, quebrou a postura enrijecida do ego. Ele mostrou que as pequenas desilusões não foram resultado de escolhas mal feitas, nem da minha incapacidade de realizar vontades,
mas por ter alimentado expectativas, exageradamente.
Fiz o que pude e o que deu, cheguei até onde consegui ir, e
em todas as vezes que quis fazer ou ir além, ignorando meus limites, paguei o alto
preço, de carregar excesso. O peso que carrego hoje, equivale ao peso do meu casco:
de ossos ainda intactos, da carne um tanto gasta e da consciência, que não sinto pesar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário