domingo, 8 de janeiro de 2023

 1560




PRIMEIRA INSTÂNCIA

Eu me apaixonei.  E por não saber, o que fazer com a paixão e todas as sensações que mexeram com os meus hormônios, invadiram as minhas ideias e devoravam minhas entranhas, eu a engoli.  Para não deixar à mostra, o que poderia denunciar alguma fragilidade ou tendência (coisa que não pretendia expor, nem passar atestado da minha situação); depressa, ela se foi goela abaixo, não a seco, e sim com grandes goles de lágrimas salgadas e tristes. A paixão desceu até o meu peito, mas não seguiu o caminho para fora, ficou guardada lá, quieta e submissa à minha vontade.  Mas vez ou outra, ela recobra a memória, se rebela ressentida e numa reação de impotência ou vaidade (talvez as duas), ela volta a questionar os motivos, de lhe ter sido negado, o direito de ser vivida.

Eu, sem coragem de viver o que sentia, cometi um crime contra mim mesmo, não de lesão corporal, e sim de lesão emocional, cuja apelação só pode ser feita à primeira instância – à minha consciência.  Esses sobressaltos que sofro, de tempos em tempos, são a minha punição; que de maneira alguma, quitam a dívida contraída para comigo mesmo.

O que alivia um pouco, o meu pensamento, é saber que, na maior parte do tempo, eu consigo manter a paixão sob controle, e o sentimento que toma conta de mim é um amor, tranquilo e resignado, como se fosse um prêmio ou um indulto, concedido ao criminoso, de bom comportamento.



Nenhum comentário:

Postar um comentário