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PRIMEIRA INSTÂNCIA
Eu me
apaixonei. E por não saber, o que fazer
com a paixão e todas as sensações que mexeram com os meus hormônios, invadiram
as minhas ideias e devoravam minhas entranhas, eu a engoli. Para não deixar à mostra, o que poderia
denunciar alguma fragilidade ou tendência (coisa que não pretendia expor, nem passar
atestado da minha situação); depressa, ela se foi goela abaixo, não a seco, e
sim com grandes goles de lágrimas salgadas e tristes. A paixão desceu até o meu
peito, mas não seguiu o caminho para fora, ficou guardada lá, quieta e submissa
à minha vontade. Mas vez ou outra, ela
recobra a memória, se rebela ressentida e numa reação de impotência ou vaidade (talvez
as duas), ela volta a questionar os motivos, de lhe ter sido negado, o direito
de ser vivida.
Eu, sem
coragem de viver o que sentia, cometi um crime contra mim mesmo, não de lesão corporal,
e sim de lesão emocional, cuja apelação só pode ser feita à primeira instância
– à minha consciência. Esses
sobressaltos que sofro, de tempos em tempos, são a minha punição; que de
maneira alguma, quitam a dívida contraída para comigo mesmo.
O que alivia
um pouco, o meu pensamento, é saber que, na maior parte do tempo, eu consigo
manter a paixão sob controle, e o sentimento que toma conta de mim é um amor, tranquilo e resignado, como se fosse um
prêmio ou um indulto, concedido ao criminoso, de bom comportamento.
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