terça-feira, 9 de agosto de 2022

 1526




PONTAS E ARESTAS

Apesar de parecer, que ‘pontas’ seja sinônimo de ‘arestas’, aqui nesse caso, não é. 

Costumamos nos imaginar, como sendo o que preenche o recipiente, com o formato do nosso corpo, cujo limite e divisa coincidem, com tudo que cabe dentro da nossa pele, um molde vivo – a imagem exata que o outro vê.  Não é nem um pouco assim, muitos de nós, nem nos contentamos com o corpo que temos, não nos identificamos com seu formato, volume, cor de pele, gênero e por aí afora; embora possamos demonstrar outra coisa.  Essas, são exigências nossas, quanto ao aspecto físico - reclamações ‘à fábrica’, pela fôrma usada, que nos fez dessa ou daquela forma.

Por mais que as pontas sejam amarradas, as quais nos parecem soltas e inconvenientes, na nossa vida sempre restará uma discrepância: entre a quantidade que amarramos e a quantidade a ser amarrada.  Má notícia: sempre haverá pontas soltas!  Esses inconvenientes, que por fugirem do nosso entendimento, não se encaixam na nossa lógica.  Sofrivelmente, vão aos poucos, sendo ligados uns aos outros, formando peças novas, e depois de colocadas no seu devido lugar, formam um mosaico interessante e passam a fazer todo o sentido.

As arestas são aquelas saliências, para além do nosso corpo, que escapam através das nossas emoções, quando sem arreios, e que traem nosso pretenso controle, quando temos reações desproporcionais em relação às situações vividas.  Às vezes, respondemos a certo estímulo, de forma exagerada, para só depois percebermos, que não era para tanto.  São discordâncias entre o que vemos no espelho e o que existe; entre o que somos e o que pensamos ser – não são propriamente ‘defeitos’, e sim acertos, ainda a serem feitos na nossa personalidade.  A função do espelho é refletir imagens; se tivermos coragem de visualizar tais arestas, será preciso recorrer ao outro, como sendo o nosso verdadeiro espelho – um refletor com mais amplitude, de sinceridade e transparência.

As pontas, nós sabemos que nos incomodam; as arestas, nem sempre temos consciência que as carregamos.  O que elas têm em comum? ... Ambas demonstram que há um trabalho de desbravamento a ser feito, em direção ao nosso interior: sobre o que trazemos de recheio, para chegarmos ao miolo e descobrirmos do que somos feitos ou seja, conhecermos a nossa essência.  Ambas são de nossa propriedade e de ninguém mais.  Não cabe a mais ninguém, cortá-las, isso é de nossa inteira responsabilidade.



Nenhum comentário:

Postar um comentário