domingo, 26 de junho de 2022

1511




CASA E PÃO 


Casa cheia, mais sujeira, mais trabalho,

mais coisas deixadas pelo assoalho.

Casa cheia, mais comida, menos sossego,

menos espaço, mas mais aconchego.

À mesa cheia, daqueles que amo

... mais nomes eu chamo!

Mais alegria no pão dividido,

num convívio estendido.

Casa cheia ... coração cheio,

menos tempo, de pensar com receio

com medo de ter a casa vazia e fria ...

ou de quando a alegria esparzia

nas vozes, dos tempos felizes ...

Corações queridos e próximos

felicidade em níveis máximos!



quinta-feira, 23 de junho de 2022

 1510




O UNIVERSO E O EXPRESSO

 

Tenho o hábito de desligar meu celular à noite.  Ontem, ao acessar a tecla para fazer isso, apareceu na tela, o número 22:22.  Pensei, caramba, hoje é dia 22 do ano 22!  O que será que o universo está tentando me dizer?  Já que não existe acaso, quatro vezes o número 22, é algo para se pensar.  Foi automático, revirei meu baú e me vi no ‘Expresso 2222’ (*), partindo direto para o ano 2000!

Não me recordo, de no dia de ontem, ter feito alguma pergunta, diferente das que faço sempre, nenhuma mais específica, a qual pudesse ligar uma resposta, mesmo que simbólica, para 2222.

Que me perdoem os numerólogos, mas eu não cheguei à conclusão alguma.  Minha ignorância nesses estudos, me fez deixar para a posteridade, uma possível e satisfatória explicação.

Como já disse, em outras tantas vezes, sou uma pessoa ‘de letras’ e não ‘de números’, embora goste mais dos ímpares, do que dos pares – acho que os ímpares têm mais personalidade.  Quem sabe, isso, seja um outro indicativo sobre mim, que eu certamente, desconheço ... e esta é mais uma resposta, que a posteridade me deve.  O máximo de vínculo, que consegui estabelecer, do fato com a minha pessoa, é, de que nem tudo foi números – ficou aí, um espaço ocupado pela letra ‘J’, de junho, que corresponde à décima do alfabeto, mas ainda assim é uma letra.

Ao Sr. Universo:

Aguardo resposta grata

 

 

(*) música e álbum de Gilbert Gil, de 1972

terça-feira, 21 de junho de 2022

79




UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO

AS DIFERENTES LINGUAGENS


A linguagem é a ferramenta da comunicação.  Visual, gestual, escrita, tácita, verbal, todas elas têm nuances que atuam como dosadores de intensidade e clareza.  Quando falamos, nossa fala é acompanhada de gestos, que devem legitimar as nossas palavras ou melhor, todas as expressões faciais e posturas devem confirmar o que está sendo dito..

Não é eficaz, adotarmos uma mesma linguagem, para todos e para todas as comunicações desejadas.  Cada um lê o mundo, com seus próprios olhos, o que dá origem, a leituras completamente diferentes, daí a necessidade de uso, de maneiras mais adequadas de diálogo. Usando o mesmo modo de nos comunicarmos, independente ‘do que se quer comunicar’ e ‘a quem se quer comunicar’; corremos o risco, da informação se perder no meio do caminho e chegar equivocada na sua recepção.  É o típico dilema: ouve-se apenas o que se ‘quer ouvir’ e sobretudo, o que se ‘pode ouvir’.  E aqui, cabe dizer ... 'querer ouvir' diz respeito à vontade de escutar ... ‘poder ouvir’, significa muito mais ‘capacidade de entender’, do que usar os ouvidos, propriamente dito.  A mensagem precisa chegar íntegra, para que se dê a comunicação limpa e fiel ao propósito inicial.

O funcionamento de cada um, é coisa que precisa ser observada, se quisermos obter uma comunicação efetiva.  Embora, o idioma seja o mesmo, as formas de nos comunicarmos não podem ser idênticas - a psicologia, as artes visuais e literárias, nos mostram isso.  Um baixo tom de voz pode surtir efeito positivo, na transmissão de uma ideia, desde que seja acompanhado de verbos devidamente colocados, de adjetivos e substantivos, que validem a nossa intenção - se o receptor estiver apto a recebê-la dessa forma.  Em outros casos, talvez seja mais funcional, elevarmos o tom de voz, reafirmando ideia de assertividade e insubmissão, quando for necessário.

Existe toda uma ciência, na base de uma comunicação clara e eficiente.  O uso de uma linguagem boa para nós, pode não resultar em boa comunicação.  Às vezes, é preciso identificarmos, qual a melhor opção que temos, tendo em vista o receptor ao qual nos dirigimos.  

É preciso lembrar - há mensagens que não chegarão ao destinatário, o que não é por nossa culpa!  Há mensagens, que não seremos nós, seus portadores!  Teremos que dormir com 'estes barulhos'!


sábado, 18 de junho de 2022

 1509

 



O SAPO E O HOMEM

 

Guardadas as devidas proporções, de diferenças entre os dois, devido ao nível de evolução e a própria natureza de cada um, estamos todos sujeitos à mesma lei – a do progresso.

Minha sábia avozinha já dizia: “a necessidade faz o sapo pular”. Os sapos pulam, por pular.  Os homens 'pulam', e tanto têm consciência disso, que criaram este ditado (ao que se sabe, português), que sempre esteve em voga, impulsionando a humanidade, para frente e para cima, pois sem desafios não há movimento.  Enquanto as condições se mantêm favoráveis, nada muda.  É preciso que adversidades aconteçam, no meio ambiente e no curso dos acontecimentos, que ameacem a subsistência dos seres e de toda criação de Deus.  Uma mudança que force uma nova estratégia, uma invenção, um certo cuidado a mais, para retomar a vida normal.  Estagnação é o que se vê, quando nenhum fator de risco está presente.  Escassez de alimento, perigo de morte são apenas alguns contratempos que incitam à evolução, porque à medida que se busca novos procedimentos para suprir o que foi retirado – quanto à comida e segurança, por exemplo, vemos acontecer um certo crescimento, quanto às novas maneiras de se garantir a subsistência e a proteção física ... na sequência observa-se o progresso adquirido, de pequenos a grandes passos.

Para os sapos, pular faz parte de sua espécie, mas se o alimento estivesse sempre à mão, quer dizer 'à lingua' e em abundância, é provável que não saíssem do lugar.  Para os humanos, as dificuldades de todo tipo, guerras, as privações, as doenças, são fatores que nos direcionam às novas e inusitadas descobertas, impondo-nos verdadeiras guinadas na nossa história.

Para os homens, a relação com a água é direta.  Não dizem que “a gente só muda quando a água bate na bunda”???  Não importa, se ela bater na bunda ou no pescoço, de qualquer forma é sinal, de que é preciso tomar uma atitude – uma busca urgente de defesa ou enfrentamento, em relação ao perigo que ela representa.

terça-feira, 14 de junho de 2022

1508




 AURÉLIO VERSUS MICHAELLIS


Empoeirado e encostado, foi assim que o encontrei.  Pode-se dizer que o ‘Aurélio’, dentre todos os livros, com muito mais poeira e por mais tempo encostado, esteja em desuso. Em lugar de várias e ricas palavras em português, prefere-se uma só, em inglês!  Por que razão? ... para que o Aurélio chegasse a esse estado tão deplorável?  É por economia de dedos?  Ou pela escolha de se adotar um idioma mais forte e dominante?  Não deveria haver luta, e, no entanto, vemos acontecer, uma bem desleal e injusta, onde suas forças vão sendo minadas, dia após dia.  Substituições de acordo com a moda, que tornam obsoletas as formas mais perfeitas de explicação e significado.  Somos nós mesmos, quem aplicamos os golpes.  É de revirar os bofes!

Sem dúvida, embora muito mais versátil ... (e por quê não dizer, de robusta essência e pura poesia!) ... não tem chance alguma, contra um adversário, cada vez mais empavonado.  Aos poucos, se usa menos de suas riquezas e o que não entrou para o esquecimento, é empregado de maneira deturpada ou equivocada, assassinado quando escrito.  Pesam sobre ele a burrice e a preguiça, não as dele, mas as nossas.


 1507




AS HORAS E A LEI

Existem as redondas, coexistindo com as quadradas, ambas ligadas ao mesmo centro. Tem as que passam dentro dos 60 minutos ou menos, tem as que de tão demoradas, parecem estenderem em linha reta, o círculo que deveriam percorrer, quebrando-o em partes - são essas, que deixam doidos os ponteiros, que não sabem para onde apontarem.  Embora sendo retas, dão voltas no tempo, é um caso de afronta à velha lei, de que uma reta é a menor distância entre dois pontos, não é – e quatro retas, muito menos!  As quadradas são aquelas que ignorando os atalhos, preferem percorrer distâncias maiores, forçando a redobrar a cada esquina, esforços e paciência.

As verdades e mentiras, também dividem o mesmo teto, sob determinados acordos de convivência pacífica, para dormirem na mesma cama, sem se tocarem.  Alguns acordos são tácitos, outros, devidamente formalizados.  Há exemplos, onde elas se justapõem, sem nenhuma decência, coabitam, em simbiose falsa.  Há outros, em que nos deixam claro, um divórcio já deferido, ocorrido entre elas.

Aqui, não faço drama, nem fantasio.  Deito aqui, a minha opinião e me refiro mais às horas quadradas do que às redondas.  Quanto às verdades ou às mentiras, não posso dar-lhes garantias, sobre quais eu falo.  Expressa está, a minha mais pura verdade relativa, tão transparente, quanto posso concebê-la.  E digo ainda, que uma mentira pode muito bem, estar dentro de uma hora redonda; uma verdade pode se arrastar por uma hora quadrada; porém para isso, não existe regra.  É inviável estabelecermos correspondência entre formato e veracidade das horas, mas saber se são arredondadas ou retilíneas ... ah! ... isso sim, podemos sentir.


sexta-feira, 10 de junho de 2022

 1506




ALTO MAR

Teus olhos me metem medo.  Eu temo, que se os fitar diretamente, posso cair dentro deles e nunca mais achar o caminho de volta, porque eu sinto, que eles me veem para além das retinas físicas.  Tenho medo, de que os meus olhos te revelem, muito mais do que pretendo. 

Mesmo que eu me atreva a deslizar sobre a superfície calma do teu olhar, não sou imune à força de atração que exerce sobre mim.  Embora, me mordendo de curiosidade de saber, quais segredos guarda, o teu olhar me é algo perigoso, de uma profundeza tamanha, que eu prefiro ficar aqui, em terra firme.


arte __ christian schloe

 1505 




BORBOLETAS ADORADORAS

Elas se entregam ao sol e seguem-no, até que a última gota de escuridão apague o seu brilho, levando-o para outro lado do mundo e deixando apenas o breu ... elas idolatram o sol.  Há ainda aquelas, que se abrem ao anoitecer, confundidas com uma luz diminuída, talvez, à procura de um maior frescor, com medo de se queimarem ... são as adoradoras da lua.

Certo dia, ouvi dizer que as flores são borboletas presas ao chão.  Pois então, eu concordo com essa explicação.  Sem poderem alçar voo, exalam perfumes puros e diferenciados, na tentativa de que algum inseto ou pequeno bico de pássaro, venha visitar o seu regaço e fazer farfalhar, ainda mais as suas saias, quando a brisa é leve. Deixam-se penetrar por eles, sem pudores e sem reservas.  Descaradas, abrem-se em botões em movimento sinuoso, num puro esplendor.  Uma vez abertas, sacodem suas saias, feitas de pétalas delicadas, em espasmos ritmados, como o fazem, as bailarinas, quando querem dar mais graça à sua dança.

terça-feira, 7 de junho de 2022

 1504



SINGULAR


A dor que antes doía, como bicho que roía

agora é dor que se declara, em linguagem clara!

Por não ser dita, grita de forma maldita!

Ela subiu à pele e agora impele, que se rebele.

Toda a dor não dita, sempre fica inscrita

em algum lugar e de forma singular

até que transpareça e a ela não se desmereça.

Como deve ser ... sem precisar se desdizer!