sexta-feira, 26 de novembro de 2021

1428

O FIM, O MEIO E O COMEÇO




Pode parecer que deixara de sentir, mas comportamento não serve de base.  Ainda sente, e sente muito, apenas guarda só para si.

A morte não se deixa matar, ela arrebata muito antes de qualquer reação contrária.  A fome não se deixa calar, porque ela tem voz e grita, rosna e resmunga.  O sentimento também não se deixa conter, uma vez nascido, ele simplesmente fica e sente; às vezes ressentido, às vezes conformado.  Quando não há como arrebatar ou gritar, fugir ou se alimentar, sumir ou se dilatar; ele permanece quietinho - a sentir, na surdina.  

terça-feira, 23 de novembro de 2021

1427

AS COISAS E O MEU TEMPO






Que eu não venha negar, tudo aquilo que fugir ao meu entendimento.  Que eu saiba conceber a existência de coisas, que não caberão dentro da minha acanhada compreensão.  Que será preciso, reservar um espaço em mim, para tudo o que ainda não assimilo - um território neutro, sem julgamento e condenação - aguardando um posterior esclarecimento ou aprendizado, para poder ser reconhecido e codificado, pela minha tão gritante razão.  Creio que esse 'espaço neutro', seja a minha tentativa débil de entender com o coração, as coisas que o meu cabeção é incapaz de processar.  Pois uma coisa eu sei: saber é bem diferente de sentir, e eu constumo levar 'pra casa' - isto é, para pensar, uma ideia que eu por ventura, não consiga interpretar dentro do meu atual contexto de vida.

Embora sendo eu, um tolo, ainda assim, possa ter a sabedoria, de aguardar o desenvolvimento da minha 'capacidade de captação', para formar uma opinião pessoal a respeito das 'coisas'.  Rechaçar ideias, só porque não se encaixam dentro do meu conteúdo, é sinal de medo e covardia.  Medo, até admito que tenho, mas covarde não quero ser.


1426

PERO NO MUCHO




O 'corpitcho', 'pero no mucho', é um cinquentão ... e por cinquentão, eu quero dizer ... cinquenta e uns anos ou cinquenta mais dez ou cinquenta mais vinte.  A mente, ela ainda é criança, e com TDHA, dentro de um espaço fechado, sem poder pular e vibrar, o que faz da sua necessidade de estar em atividade, uma irritação permanente.

Ah! ... essa criança! ... que me faz cansar o velho corpo, pois este 'esqueleto' já sente a passagem do tempo; coisa que a criança, ainda não sentiu e espero mesmo, que nunca sinta.

Frequentemente, digo a esta criança: "calma aí - minha querida - um pouco menos, um pouco mais devagar, senão não aguento!".




segunda-feira, 15 de novembro de 2021

1425

'PAIXÃO', POR NASCIMENTO





Veio a paixão, e por medo de ser rejeitada ou talvez, por medo de ser correspondida, permaneceu calada.  Respondeu o tempo, à pergunta que não queria calar: "não correspondida"(!) 

A paixão então, sem argumentos para se manter 'apaixonada', teve que lidar com a sua frustração e de dar um jeito naquela 'coisa', que a alegrava, mas também fazia doer - reconheceu que estava mais para uma 'doencinha', do que para algo que lhe desse conforto.  Acabou por perceber, que nutria um secreto apego, em relação a algo que não lhe fazia bem - algo que era doce, mas ao mesmo tempo, corria-lhe as entranhas.  Ela imediatamente, passou a associar o que sentia, ao cheiro do ácido, que é doce, coça a garganta, mas corrói os pulmões.

Uma vez, admitido que não era uma coisa saudável de se alimentar, porque além de machucar, não tinha futuro - precisava tomar uma atitude e o mínimo que podia fazer, era reestruturar aquela 'coisa' que sentia ... se é que isso era possível!

Não se sabe bem ao certo quem a transformou, se foi o tempo, enquanto deixava bem claro, que seu afeto não era retribuído.  A sequência dos acontecimentos, convenceu a razão, do que era melhor para todos e de uma certa forma, convenceu também a própria paixão, que passou a ser menos exigente e a não mais esperar a retribuição.  Aos poucos foi se remodelando, amadurecendo, mas deixar de sentir, ela nunca deixou!  Têm dias, em que ela nem se lembra que sente(!), mas às vezes, ainda coça-lhe a garganta e seus bracinhos querem abraçar novamente, o seu velho afeto.  

Diante de toda essa metamorfose, ela passou a ser um pouco mais incondicional, quase não se reconhece mais como antes e mudou de nome - nascida 'paixão', atende agora pelo nome de 'bem-querer'.





sábado, 13 de novembro de 2021

 1424

O MAR DÁ O SEU JEITO



A menor distância entre dois continentes, ainda é, aquela percorrida sobre as águas, do mesmo oceano que os banha a costa.  Ao contrário do que se pensa e diz - que as águas salgadas, os separam ... na verdade elas os unem.

As lágrimas derramadas aqui, correm para o mar.  As garrafas com mensagens ou as flores jogadas; os desejos secretos suspirados à beira da praia ... será que tudo se acaba no mar?  Não, não se acaba!  Ele arranja sempre um jeito de dar o seu recado.

As lágrimas deste lado, se juntam às outras, vertidas por lá.  As garrafas arremessadas, acabam por aportar nas praias do continente longínquo.  As flores ofertadas por cá, descem ao fundo e alimentam a vida, que chega ao lado de lá.

Os suspiros, como pequenas ou grandes caixas resistentes de texto, atravessam intactos pelas tempestades e demais perigos e atingem o seu destino, num tempo muito menor do que as garrafas e até as próprias lágrimas - porque não há barreiras para os sentimentos verdadeiros.

A menor distância, ainda é o mar; porque se caso, não houvessem as águas ... certamente, percorrer o espaço real, seria intransponível, pois veria-se à frente um fosso tão profundo e grande, de rocha contínua; que tornaria muito mais difícil e demorada a travessia.  Seria preciso iniciar a descida ao fundo - ora vazio - antes de começar a subir em direção ao outro lado.



segunda-feira, 8 de novembro de 2021

1423

 A SOMA DE TODAS AS FORÇAS




A força do coração - é ela que nos leva adiante, quando a do corpo falha ou se esgota.  Quando é preciso seguir em frente e as pernas nos faltam, não respondendo ao nosso comando, nos dando a sensação de fracasso.  Quando a coragem nos abandona, mas é imperioso continuarmos de pé - é a reserva escondida nos recônditos do coração, que nos move em direção ao objetivo.

É ela que assume o controle, nos abastece os músculos e fortalece a determinação.  A vitalidade nos leva até onde ela consegue, mas é um outro tipo de força, que nos faz chegar mais longe.

 

1422

NO CÉU DA BOCA 




Quando a noite abraçou o dia, aproveitou-se desse momento de intimidade entre os dois.  Na entrega/permissão - um tanto descuidada do dia - a noite pôs sua lingua fria, a dançar pela boca iluminada, desbravando as entranhas quentes e prazerosas, que encontrou.

Por sua vez, o dia correspondeu às intenções da noite. Então, a lingua prateada mais a lingua dourada, bailaram livres, num céu sem gravidade e impedimentos.

A prata e o ouro se amalgamararm, dando origem à vigorosa luminescência - que os olhos, incapazes de suportarem - se fecharam.  Só bem mais tarde, apareceram as estrelas.





quinta-feira, 4 de novembro de 2021

1421

PARADOXO




"Serviço feito não dá canseira."  Não sei quantas vezes ouvi essa frase, dita afirmativamente, uma das muitas que minha avó falava.  Como já disse, era mulher muito sábia, tinha inúmeras tiradas parecidas com essa, que deixavam bem claro o que precisava ser dito, enquanto procurava nos ensinar, de uma maneira didática, as lições, nem sem fáceis de serem entendidas.

Apesar de, às vezes, usar termos simples, sempre nos passava a sua mensagem, com toda a inteligência e transparência que lhe eram próprias.  Acho que ela tentava fazer de nós, pessoas de bem e ensinar por atalhos, através de algumas falas, que não sei se eram 100 % suas, mas tinham um efeito certo.

Hoje, me veio à mente essa - do serviço feito sem dar canseira.  Justamente hoje, um dia após eu ter trabalhado tanto!  Devo ser sincera, estou bem cansada e como ela diria: "a canseira é grande".

É inevitável, eu modificar a entonação dessa frase, sem querer contestar o que ela - minha avó - queria dizer.  Hoje, eu peço licença à ela e me permito, suspender o 'ponto final', para acrescentar em seu
lugar um 'ponto de interrogação'.

Acredito, que o que ela nos falava, na sua simplicidade, é que um serviço feito não nos pesa mais na consciência.  Ela, que fazia tanta coisa ao mesmo tempo, não me lembro de ter se queixado de cansaço ou canseira - ah! ... isso eu preciso deixar claro.

Se me perguntarem hoje, se estou cansada, eu direi que sim - pesa-me o corpo, mas a consciência está levinha, levinha!   Hoje, eu entendi, o que ela tentou nos dizer.  Podia ser um paradoxo (coisa que ela nunca soube o que era), mas de fato, estava valorizando muito mais a responsabilidade que temos, do que o nosso bem estar.  O cansaço ou canseira passam, mas a nossa omissão, em face de uma obrigação não cumprida, pode ser muito mais pesada, do que o corpo sobre a cama, depois do trabalho árduo.



terça-feira, 2 de novembro de 2021

1420

TU



Me besas la cara con la ternura de amigo.  Hablas cerca de mi oído con el coraje de compañero.  Me tomas de la mano con la firmeza del apoyo y la sencillez del gesto.

No entiendes nada de lo que te dice mi corazón.  Porque cuando me tomas de la mano, no quiero que te sueltes. Cuando estás cerca de mis oídos, es a mi corazón a quien hablas.  Y mientras te acercas a mi cara, es mi boca la que espera tu beso.


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

 1419

QUE TIPO DE MEL?




Estava eu, deitado preguiçosamente, na minha rede 'imaginária'; quando, sobre a grade da minha janela, apareceu-me uma abelha - 'figurinha' tão rara nos dias de hoje.   Pousada na haste horizontal, veio arrancar-me do marasmo mental, que tomava conta do meu ser.

Eu, que preguiçoso estava, balançando-me 'imaginariamente', com a mente presa ao corpo pesado; fiquei a meditar sobre a vida das abelhas - uma vida tão ingrata e por quê não dizer - amarga!   A vida de quem tanto se dedica e não é respeitado, por não ter seu trabalho valorizado e reconhecido, como essencial para a manutenção do planeta.

Fiquei a pensar, sobre o produto mais conhecido que elas produzem - o mel.  Foi inevitável, que me viesse à mente, a importância da doação que elas nos oferecem - de todo o trabalho exaustivo, de sugarem o doce néctar, de flor em flor, para seu alimento e bezuntadas de pólem, promovem por tabela, a continuidade da vida vegetal e a de todos os animais, inclusive nós.

Por eu estar, no 'dolce far niente' - uma coisa puxando a outra ... acabei por divagar sobre os vários tipos de mel fabricados por elas.  E por associação de ideias, terminei concluindo, que o ser humano é uma espécie de 'abelha da terra'.  Calma!  Vou tentar explicar o meu raciocínio.

O nosso aprendizado em viver, pode nos levar à sabedoria - o que não deixa de ser um dos produtos mais preciosos, extraídos de nós - algo que poderia equiparar-se ao mel das abelhas - pois pode ser usado em nosso favor, como também, pode vir a favorecer uma outra pessoa.   Ainda na sequência, me pus a indagar, sobre qual tipo de 'mel' seria produzido por nós.  

Pela diversidade dos 'acontecimentos/flores' pelos quais nos aventuramos, eu deduzi, que só nos é possível, produzir o mel silvestre.    Na vida, não temos apenas flores de árvores frutíferas para visitar, nem de eucalipto ou menta; pela quantidade de situações que somos forçados a 'bicar' - só pode mesmo ser, o 'silvestre' - um misto fabricado através do néctar de todas as flores.