terça-feira, 21 de abril de 2020


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ALGO PRA SE PENSAR
21/04/20



Foi um sonho muito estranho, desses, que ao acordarmos, deixa uma impressão muito forte em nós e que perdura durante um bom tempo, no nosso consciente, como coisa não compreendida.  Às vezes, tenho alguns assim.

Não sei se eu tentava fugir ou me refugiar, se tentava entrar ou sair, mas ao conseguir abrir a porta à minha frente, me deparei com um segundo obstáculo, no mesmo batente.  Não era necessariamente, uma outra porta, estava mais pra um tapume, de um vermelho desbotado, fixo e preso nas mesmas dimensões da porta, sem maçaneta, sem dobradiças.  Era impossível movê-la, coloquei meu ombro de encontro à placa resistente, fiz a maior força, pra que pudesse abri-la, mas foi inútil, permaneceu rígida, como se tivesse nascido ali, como se nunca ninguém tivesse tentado movê-la.

A minha intenção era de 'fuga', não sei se pra dentro ou pra fora, mas era óbvio que precisava sair daquela situação, fazer um movimento, o quanto antes.

De repente, o obstáculo irredutível, não estava mais lá, então eu consegui ver o que havia no interior daquele aposento.  Era escuro e quase vazio, além de alguns restos de móveis, material de pintura, havia pó, muito pó acumulado, num quarto sem uso há muito tempo.  Parecia não ter janela, se tinha, estava fechada.  Não queria ficar nele, nem entrei.

Ao lado da primeira porta, à direita, havia uma segunda, que abri com facilidade.  Deparei-me com alguns leitos desfeitos, talvez recém usados, com lençóis amarrotados.  O que estava mais próximo da entrada, tinha sobre ele, algumas caixas de sapatos, fechadas.  Sem dúvida, não eram sapatos, o conteúdo delas. Isso me assustou, porque sabia disso!

Só consegui pensar em pequenos delitos meus, guardados dessa forma.  Pensei de primeira mão, que poderiam ser pequenos corpos, fetos, mas pensei: nessa vida, nunca cometi nenhum aborto, nem ajudei a praticar um.

Concluí, que talvez não fossem corpos, coisa nenhuma, mas sim, ideias e possibilidades abortadas por mim, cujas consequências funestas, me acompanhariam, por tê-las mantido encaixotadas, impedindo que viessem à luz.

Embora não fossem os pequenos corpos, do início, chorei por elas, igualmente.


arte | christian schloe

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