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A VIDA EM SI MESMA
02/03/20
Ouço a floresta crescendo, debaixo dos meus pés. São raízes silenciosas, que antes finas e fracas, se espalharam lateralmente, para sustentarem as pequenas árvores. Hoje, grossas e resistentes, fixam gigantes, eretos, incólumes e majestosos.
As pequenas plantas, também se alastram com filamentos, acima e abaixo do solo, enrolando-se em torno de um eixo imaginário, à sombra das grandes copas, realizando a promessa de vida, da menor à maior semente.
Sou capaz de ouvir o sangue, que sobe e desce pelas minhas veias e artérias, fazendo fluir a vida; como escuto a seiva, viajando até cada minúscula folha e o alimento que sobe viscoso, pelo caule das árvores. Pulsa no meu peito, na garganta, nas entranhas, nas mãos e pés; a mesma vida que percorre raízes, troncos e folhas, antes de explodir em flor e fruto.
Sinto o movimento das minhas células, a se multiplicarem, em atos de doação, revitalizando cada um dos meus órgãos, fazendo-os funcionar em perfeita harmonia, dentro de cada sistema do meu corpo.
Ao ar que chega até os meus pulmões, reverencio, assumindo uma postura de gratidão, pelo que recebo do universo. Deixo que ele saia, pela fé depositada, no mesmo universo, de que suprirá minha existência, com o imprescindível oxigênio e muito mais.
A linfa drena todo o resíduo e a água má, expurga tudo o que já me foi útil. Vou deixando que me limpe, como se um vento violeta, rodopiasse à minha frente, e me transpassasse dos pés à cabeça, levando com ele tudo o que me pesava, toda a energia que não condiz mais com a frequência, em que quero vibrar.
O fogo transmuta e a água lava. Um queima as raízes do mal ceifado, que ainda resistem em mim, cauterizando as feridas; a outra, torna fértil, o terreno para que novas sementes venham se aninhar. Meus dedos devem afofar e arar a terra, com pensamentos mais harmonizados, garantindo alimento às boas sementes.
No céu, eu vejo as asas, que se contraem e se expandem, em força e vontade, sustentando grandes e pequenas aves, que planam, pousam e alçam voo novamente. Tudo é perfeito, assim, do jeito que é - é a vida em si mesma.
O rio que dessedenta, também limpa e leva para longe - leva ao mar profundo, nossos males e dores, para depois nos devolver bençãos, em forma de ondas derramadas na areia.
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