terça-feira, 20 de fevereiro de 2018



RE_EDIÇÃO
Dança do fogo
22/02/17





Rodopio em torno da fogueira, no meio da noite apagada e sem luzes.  As chamas tremulantes tentam flutuar em direção aos céus para iluminá-lo. Ouço os estalidos da madeira dilatada - ela grita antes de queimar - debaixo das línguas de fogo.  Tudo se funde numa coisa só - o chão, a madeira e as chamas crepitam em direção ao breu.

A música é mágica e não me permite aquietar, me incita a girar sobre meus pés descalços, honrando a todas as  mulheres que vieram antes de mim e  as que virão depois – a elas e as suas saias longas, seus ventres e seus fogos internos.  Numa espécie de transe, eu me deixo levar pelo ritmo e pelo brilho quente tão próximo de mim. Entreguei meu corpo aos sons. Percebo como é bom ... fazer parte da noite fria, do encantamento do fogo, do choro da madeira.  A dança primitiva dos nossos ancestrais - e o que ela me faz sentir  e ver - virarem  cinzas,  aquilo que não quero mais.

Tenho meus cabelos soltos e esvoaçantes sobre meus ombros, que se tornaram suados pelos rodopios, pelo calor e pelo ardor de meu ventre.  Sinto o amor, num movimento de subir pelas minhas pernas, a passar por dentro de mim - ele se detém um pouco mais de tempo em minhas entranhas ... e depois, e só depois, me escapa pelos braços ... para então retornar às minhas mãos e percorrer novamente o meu corpo, até entregar-se ao chão.  Sim ... nessas subidas e descidas, acaba deixando um tanto dele comigo.



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