NHEC-NHEC ____________________ 522
Eu
pergunto, ela não responde. Ouço um
nhec-nhec. Do jeito que está, fica. Pra
frente e pra trás em sua cadeira de balanço, às escuras, olhando pra
eternidade.
Faz
crescer à minha frente, dois paredões rochosos, um canyon, pra onde grito a
minha voz de indagações. Mas as minhas
palavras reverberam nas paredes e retornam a mim, como eco, na mesma entonação,
nem mais afirmativas, nem mais negativas, não menos indagativas do que como
foram.
Nesse
método terapêutico, elas me devolvem as mesmas perguntas, apenas um pouco mais
arrastadas.
Tenho
ímpetos de xingá-la de surda. Porque nunca me responde, ao contrário, arranja
sempre um jeito de devolver o que perguntei.
Bem que gostaria que respondesse, ninguém saberia disso, o fato ficaria
entre nós, pois os paredões são à prova de som o que nos torna únicas
testemunhas.
Impassível,
pelo tempo que durar, ela faz o nhec-nhec, com a pressa de quem não tem aonde
ir. Fica ali, balançando-se, marcando o tempo com a sua cadeira, no escuro, sem
mostrar seu rosto.
Por
vezes eu bem que gostaria de obter uma resposta fácil, pra um bom resultado,
mas se acaso respondesse em alguma das vezes em que pergunto, é bem provável
que eu não aceitasse sua opinião. Como
poderia confiar em alguém que não mostra a sua verdadeira face?
Mas
eu sei que ela não é surda, não responde, não porque não quer ... porque as
respostas? ela não as tem.
Não
conheço sua aparência, pode ser jovem, velha - criança é que não é. Quando me devolve as perguntas que lhe faço,
fazendo com que eu procure as respostas dentro de mim, eu vejo nela, uma sabedoria
incompatível como a de uma criança. Só sei que
quando bate a luz do dia, ela não está mais lá.
Não ouço o seu nhec-nhec.
Dessa
forma, fazendo como ela faz, não terei a
quem culpar pelo caminho errôneo que escolher, senão a mim mesmo ... mas mérito
de um acerto, eu compartilho com os dois
paredões.
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