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PARAÍSO E SONHO
Certo dia, me dei conta de que andava pelo paraíso, onde as flores prometiam novas escolhas, o vento me mostrava caminhos diferentes e os insetos zumbiam aos meus ouvidos, que era possível recuperar o tempo gasto com atalhos, revelados ingratos.
Não havia peso, nem a sensação de perda dele. Andava sem remorsos de ir deixando, atrás de mim, os despojos, dos quais abria mão, sem arrependimento ou culpa, porque não deixava rastro na relva, tocada de leve. Naquela terra não havia as convenções que prendem os pés em terreno pedregoso, nem as amarras da tão valorizada consciência. Ambos, corpo e consciência eram leves, desapegados do que doera. Aventuravam-se, de peito aberto e com uma inocência quase infantil, os dois seguiam pelas paisagens: a cabeça tocando o céu, muito mais do que os pés tocavam o chão. Ambos realmente acreditavam ser possível permanecer assim, pelo tempo que eu quisesse. Não me sentia só, a sua presença de tão vívida(!), me faria jurar que caminhava ao meu lado, partilhando das mesmas impressões.
Algum tempo depois, eu percebi que o passeio era na verdade, solitário. Fiquei por lá, um tempo razoável, esperei na esperança de que você aparecesse, com um atraso desculpável ou a espera de um reencontro surpreendente - o que não ocorreu. Deixei o paraíso, da mesma forma que cheguei, só!
E então, outra noite sonhei com você e vi em seus olhos, lágrimas quase palpáveis, enquanto me dizia: 'nós vamos dançar!'. Confesso que não entendi, se era você saindo da minha vida ou eu saindo da sua. Cheguei até a pensar, que poderia ser uma despedida: 'seria um aviso? algum de nós ia morrer?' Na sequência do mesmo sonho, você dormia e eu sussurrei ao seu ouvido: 'nós vamos dançar sim, aqui ou em outra vida!'.
Após o passeio, tenho algumas certezas, uma: não existem caminhos ingratos, apenas segmentos das escolhas feitas, que nos fazem ser o que somos; outra: que não estive o tempo todo sozinho. O sonho, por sua vez, deixou a nítida sensação, da inegável existência de um vínculo muito forte.
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