domingo, 25 de junho de 2023

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OLHOS DE OUVIR E OUVIDOS DE VER E LER

Tão importante quanto compreender o que nos é dito, é ouvir e entender o que não é falado.  O gestual conta muito, como complemento.   As palavras não ditas, mas que podem estar subentendidas, na continuidade de um raciocínio, não concluído verbalmente - também fazem parte da comunicação, como ‘as meias-palavras ao bom entendedor’, e nesse caso, nenhuma! São palavras pensadas, que se incendeiam, antes de serem pronunciadas ou escritas.




sábado, 24 de junho de 2023

1601




HAMBRE VACÍA  

El vacío era tan grande, que en su interior cabía todo el dolor del mundo. Aún cabrían sueños incumplidos, deseos censurados o cualquier antojo absurdo. Podría decirse que el vacío no estaba en modo alguno vacío sino lleno de todo.


Él tomó la forma de una burbuja de película transparente y elástica, la cual se expandió, mientras su enorme boca tragaba lo que veía frente a ella, tal era su hambre! ¡Era un vacío hambriento con un hambre sin fin!



arte __ agnes cecile


sexta-feira, 23 de junho de 2023

1600


PARÁGRAFOS, CAPÍTULOS OU LIVROS INTEIROS

Nos filmes, nos livros, até nos meus próprios textos, em certo momento, sempre há uma menção ou um vasto comentário, sobre o título de cada um deles.  Caso não seja mencionado, é porque o autor assim desejou que fosse, para nos fazer pensar; porém isso não é regra.  Quando não entendemos, o porquê de um filme ter recebido um determinado título, esse 'pormenor explicativo', vem ao nosso socorro, deixando claro, na maioria das vezes, a exata razão de ser chamado assim - e então podemos ligar o título ao conteúdo.   Esse 'esclarecimento' pode vir no início, durante ou no final, como um desfecho; o ideal é que não venha tão precocemente, para nos dar tempo de absorvermos a mensagem.

Na nossa vida acontece o mesmo, em algum momento ou fase, fica claro, o que poderia ser o 'lema ou título' dela - nesse caso, o termo mais correto seria 'propósito'.  Como a vida é feita de 'fases' ou 'cenas' ou 'parágrafos' ou 'capítulos', quem sabe até de livros inteiros (como quiserem dividi-la) - é honesto reconhecermos que poderemos ter, ao todo, propósitos diferentes em fases diferentes, e ainda assim sermos a mesma pessoa (embora um pouco modificada).  No final das contas, apreciando toda essa trajetória, é possível encontrarmos o sentido da vida e a forma como todos os propósitos estão interligados.

terça-feira, 20 de junho de 2023

1599




PARAÍSO E SONHO

Certo dia, me dei conta de que andava pelo paraíso, onde as flores prometiam novas escolhas, o vento me mostrava caminhos diferentes e os insetos zumbiam aos meus ouvidos, que era possível recuperar o tempo gasto com atalhos, revelados ingratos.

Não havia peso, nem a sensação de perda dele.  Andava sem remorsos de ir deixando, atrás de mim, os despojos, dos quais abria mão, sem arrependimento ou culpa, porque não deixava rastro na relva, tocada de leve.  Naquela terra não havia as convenções que prendem os pés em terreno pedregoso, nem as amarras da tão valorizada consciência.  Ambos, corpo e consciência eram leves, desapegados do que doera.  Aventuravam-se, de peito aberto e com uma inocência quase infantil, os dois seguiam pelas paisagens: a cabeça tocando o céu, muito mais do que os pés tocavam o chão.  Ambos realmente acreditavam ser possível permanecer assim, pelo tempo que eu quisesse.  Não me sentia só, a sua presença de tão vívida(!), me faria jurar que caminhava ao meu lado, partilhando das mesmas impressões. 

Algum tempo depois, eu percebi que o passeio era na verdade, solitário.  Fiquei por lá, um tempo razoável, esperei na esperança de que você aparecesse, com um atraso desculpável ou a espera de um reencontro surpreendente - o que não ocorreu.  Deixei o paraíso, da mesma forma que cheguei, só!

E então, outra noite sonhei com você e vi em seus olhos, lágrimas quase palpáveis, enquanto me dizia: 'nós vamos dançar!'.  Confesso que não entendi, se era você saindo da minha vida ou eu saindo da sua. Cheguei até a pensar, que poderia ser uma despedida: 'seria um aviso?  algum de nós ia morrer?'  Na sequência do mesmo sonho, você dormia e eu sussurrei ao seu ouvido: 'nós vamos dançar sim, aqui ou em outra vida!'.   

Após o passeio, tenho algumas certezas, uma: não existem caminhos ingratos, apenas segmentos das escolhas feitas, que nos fazem ser o que somos; outra: que não estive o tempo todo sozinho.  O sonho, por sua vez, deixou a nítida sensação, da inegável existência de um vínculo muito forte.









quarta-feira, 14 de junho de 2023

1598



AO MEU DISPOR

Gosto de pensar que tenho muito tempo pela frente, mas o único tempo que me pertence, de fato, é o agora.  É nele que posso dispor ou não - onde as mãos podem segurar e os pés podem pisar - isso é óbvio, mais é que minha cabeça teima em não estar junto com o resto. Os 'amanhãs' ainda estão por serem feitos e os 'ontens' já se desfizeram.  




quarta-feira, 7 de junho de 2023

1597



UM MAIS O OUTRO

Abandonei à própria sorte, um sentimento nascido genuíno e autêntico, depois de atingir o status de 'entidade com vida e vontade' - um ser quase autônomo e capaz de fazer escolhas, quando lhe foi possível.  

Condenei-o assim, a morrer à mingua, de sede e fome, ao relento e abandono.  Culpo-me, talvez(?), por ter-lhe dado muito mais do que ouvidos, de ter-lhe dado acolhida e um teto para morar.  

Foi forçoso que eu o despejasse, a contragosto dos dois, mas dói-me vê-lo pelas ruas e becos, a mendigar abrigo, como um indigente - coisa que ele não é, pois já teve nome, sobrenome e endereço fixo.



terça-feira, 6 de junho de 2023

1596


PALAVRAS-CHAVE

Sentei-me, em uma das beiras do planeta.  Fiquei ali, balançando as minhas pernas no vazio e pensando: de como me certificar, sobre o quanto o universo estaria comprometido, em conspirar ao meu favor - qual o seu grau de envolvimento a esse respeito.  

Imerso naquele oceano de ar, considerei que gritar meus desejos não seria viável, talvez, minha voz não fosse percebida, dentre outros tantos barulhos!  Qual seria a linguagem, através da qual eu me fizesse entender?  

Então, meus dedos se transformaram em pequenas baquetas, que ao invés de provocarem sons, desenhavam no ar, mais que escreviam, letras douradas dançantes, formando palavras-chave, que traduziam os meus desejos.  Elas permaneciam por um certo tempo, pairando sobre o papel instável que teimavam em usar, tentavam se fixar nele, mas depois desapareciam no espaço; como traços de tinta solúvel, num grande balde de água.  Foi aí que entendi - que tinha conseguido me comunicar com o universo, de uma forma efetiva.