quinta-feira, 23 de julho de 2020

1187

ALMA E CARNE
23/07/20




Muito embora, a dor mastigue a alma,
é à carne, que ela consome, dando-lhe
pequenas mordidas espaçadas, 
porém certas e doídas.

Mesmo que não se veja, o espinho
cravado, que lacera a mucosa sensível,
faz verter sangue e lágrima invisíveis.
Da alma, o espinho tira-lhe a calma,
faz sangrar e chorar para dentro,
mesmo que a boca arrisque um sorriso.

Tudo que à alma incomoda, um dia 
saltará à carne, fazendo-se sentir, 
num inexplicável e profundo desconforto.
Senão, num martírio lancinante e aparente, 
ao menos, o fará em espasmo involuntário, 
secreto e encoberto, que espicaça 
o bem estar da própria alma.


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