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02/05/20
Quem é que, sob o rigor do frio, não busque aconchego?
Que dentro do calor da batalha, não questione o motivo?
Quem, na iminência da perda, não rogue aos céus?
Que revoltado com a injustiça, não se ruborize?
Que ao perigo - ladrão do sangue do rosto e do resto corpo,
não tenha as pernas congeladas e imóveis?
Que ao cair da noite, não tema pelo novo dia?
Quem é seguro o bastante, de enfrentar um possível inimigo,
sem um escudo à frente do peito, ou um punhal oculto na manga?
Quem é capaz de assistir, ao grito de dor de um irmão,
e este não lhe causar amargor na boca?
Somos feitos de vidro, quebrável em cacos afiados, ou de um outro material, que se parte em pontas rombudas, como agulhas mal aparadas e cegas, que custam a penetrar a carne e o pano.
Os cacos e as pontas ferem quem as têm, e quem as vê ferir.
Porque nem toda consciência é sã - melhor dizendo: tanto a consciência, como a sanidade, podem atingir vários graus - tantos ... que talvez seja possível: sentir o frio, suportar o calor, a perda, a injustiça, o perigo, o medo, a dor nossa e alheia ... e não se quebrar, e não se ferir, nem a si, nem a ninguém.
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