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O CÉU DE CATARINA
Fui encontrar minha criança, no jardim de Catarina. Ao contrário do que pensava, ela não estava perdida, e sim muito bem achada. É como se, o tempo todo, ela estivesse a me chamar para lá, mas como não lhe dei ouvidos, parou, já há algum tempo.
Foi preciso apenas um pequeno comando, para que eu baixasse a guarda (um pouco o volume e quantidade dos meus pensamentos) e assim pude identificar o seu chamado. Imediatamente, nos encontramos. Eu adquiri sua estatura, de modo que as flores ali presentes tomaram um tamanho descomunal, em relação ao que se imagina. As minhas preferidas: boca de leão amarelinha e crista de galo em vermelho intenso estão presentes como muitas outras, singelas e delicadas.
Flores que eu nunca mais tinha visto em lugar algum, com cores, formatos e vivacidade quase irreais, ali estão vívidas e concretas. Somos duas, mas numa só pessoinha correndo por entre elas, com as perninhas curtas e ágeis. Tocando, aqui e ali, com muito cuidado, explorando tudo com mãozinhas brancas. O jardim era da Catarina, amiga de minha avó, mas sem dúvida a dona dele sou eu ou uma miniaturinha de mim, que reivindicou a posse dele para sempre, e o batizei como ‘céu de Catarina’. Lá reencontrei a graça, a alegria de estar rodeada de flores, dando gritinhos, esbarrando nos pequenos arbustos, atrás das borboletas, movimentando todas as folhagens, tirando o sossego do lugar. Já nem me lembrava mais, do tanto que gosto das flores … e eu achando que preferia as folhas!!!
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