terça-feira, 30 de julho de 2024

 1665



PURA CRUEZA  

Fruta sem caroço é corpo sem osso,

é coisa híbrida - indeferida pela natureza,

nega herança à posteridade, só desesperança!

Vida sem sentido, puro fracasso consentido.

História inglória, de uma existência vazia.

Desperdício de oxigênio, às narinas sovinas!




sexta-feira, 26 de julho de 2024

1664 



ARMADILHAS E CILADAS

Muito cuidado porque ‘A cereja do bolo’ pode nem ser cereja, de fato ... e ‘A azeitona’(?), nem lhe faça mal, mas talvez quebre seu dente.  ‘A bolacha’ - última do pacote, certamente, estará quebrada ou murcha.

Isso serve, tanto para quem se considere ‘A’ cereja e para quem se ‘ache’ ‘A’ última bolacha; como para quem responsabilize a azeitona, por um resultado ruim.  A cereja pode ser chuchu colorido de vermelho.  A bolacha pode esconder mofo.  Não vale a pena valorizar coisas estereotipadas.  A culpa nem sempre é da azeitona, exceto no caso dela vir a quebrar seu dente, quando resolver comer a empada.

Aqui tudo é devaneio - fruto de uma sequência que me surgiu à mente ... e quando essas coisas me acontecem, eu presto atenção, e tento decifrar o que querem me dizer.

Resumo da ópera: primeiro - o verdadeiro valor pode não estar onde o colocamos; segundo - temos uma necessidade de apontarmos um culpado; terceiro - coisas tidas como boas e importantes podem nos decepcionar e nos fazer muito mal.  

Por ora é isso, mas é provável, que muitas outras conclusões sejam possíveis - todas relacionados com o nosso orgulho, com a nossa pressa, com a nossa infantilidade ... e por aí afora.  Esta é mais uma das minhas especulações desconexas e imaginativas, beirando o irônico.

E ainda mais, não nos esqueçamos, de que 'estar por cima da carne seca’, ser ‘o rei da cocada preta’, também são expressões bem enganosas ... não é a toa que essas coisas dizem respeito ao estômago (!) - é isso que estes provérbios têm em comum - uma forma simplista de definição para êxito e felicidade.




quinta-feira, 25 de julho de 2024

1663




DAS PALAVRAS ÀS IMAGENS

Há palavras que não exprimem uma representação fidedigna das coisas, porque têm coisas que não podem ser descritas ou traduzidas em palavras.  ‘Silêncio e nada’ são ideias que nos remetem às sensações e sentimentos, e não ao vácuo que elas pretendem representar.

O silêncio não é ausência de sons, longe disso, ele pode ser preenchido de diálogos intensos, barulhentos e confusos; na verdade o silêncio só é desprovido de palavras.  O 'nada' é algo muito vago ... se o nada é a ausência de coisa alguma, é justamente, à ideia de falta que ele nos conduz - o nada é quase tudo, menos aquilo que queremos.  Impossível conceber e alcançar essas duas imagens concretas, a partir das palavras que tentam dar-lhes definição e significado; o máximo que conseguem é pincelarem uma interpretação incompleta e fingida.

Não há espaço em branco ou a ser preenchido.  A falsa sensação de vazio ou de inexistência, que essas palavras querem nos fazer crer, nos leva a imaginarmos uma infinidade de ruídos que cabem dentro do silêncio, e a uma quantidade absurda de elementos que podem compor o nada - exatamente o oposto do que intencionam nos dizer, as insuficientes: 'silêncio e nada'.


domingo, 21 de julho de 2024

 1662



ADORADORES, VELA E PAVIO 

Adoradores, ainda somos.  O sol já não é o mesmo, nem a terra, nem nós; no entanto, as nossas raízes têm um veio muito mais profundo, perdido nos tempos e incrustado nas camadas da arqueologia, revelando a nossa necessidade de adoração, às grandezas que nos escapam ao entendimento.  Aquele mesmo que nos permite a vida, é capaz de acabar com ela.  Adoração e temor crescem, à medida que reconhecemos o seu poder e o desconhecemos, ao mesmo tempo.

Ainda estamos por aqui, porque ainda estamos ligados ao chão que nos mantém vivos, por ora, do lado de cá do muro, nossa trajetória, aqui se desenha - por mérito ou necessidade.  Vinda da terra, ainda há vela - a ser derretida; e pavio - de conduzir o calor que recebemos do alto; por isso mesmo, permaneceremos deste lado, até que todos os dois se consumam por completo.