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CRIADOR E CRIATURA
Joguei pedras, ignorando que eu tinha janelas. Tentei alimentar minhas
expectativas, depois de cria-las, sem desconfiar, que elas nunca se deixariam
domesticar, porque obedecem à natureza selvagem.
Quando minhas vidraças
quebraram, pelo efeito rebote dos meus arremessos, fiquei em meio a cacos (alguns
bem pontiagudos que feriram) e a uma bagunça de estilhaços menores, que tive
que recolher e dar-lhes um destino.
Muitas pedras também, tive que retirar para limpar o espaço onde eu
pudesse habitar.
Algumas janelas ainda se encontram sem vidro, através delas posso ver as expectativas pastando livres, pois como sempre, se recusam a comer do alimento que temos a oferecer, preferem se alimentar do que mais lhes agrada – afinal, eu não sei exatamente do que elas vivem! Vejo algumas, que foram ‘pretensiosamente só minhas’ e que ainda estão por perto.
Reconheço que outras pessoas, como eu, cometeram
o mesmo erro, quiseram colocar-lhes uma coleira ou gravar-lhes uma marca, para
tê-las sob controle, mas é óbvio, que depois de criadas, não obedecem ao seu criador.
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