sexta-feira, 26 de maio de 2023

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UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO - CÃES E CERCAS

Somos especialistas em criar perímetros imaginários, dentro dos quais esperamos que as nossas relações se manifestem.  Traçamos algumas linhas definidas, em cuja área interna deve 'se dar' a interação social.  Fazemos isso, com base no nosso conhecimento e discernimento, de como esta deve ser, de acordo com a maneira que entendemos e esperamos ... sem considerarmos a ligação que o outro tem conosco, o seu grau de comprometimento e suas próprias considerações a respeito.

Ao desenharmos essas linhas imaginárias (nem por isso menos rígidas), estamos automaticamente, criando pequenos e grandes guardiões, sob a forma de cães que guardam ferrenhos, os seus limites, ladram a todo instante e tentam tanger o comportamento alheio, para que se dê dentro do espaço delineado.  Junto com as linhas, escrevemos e oficializamos regras de conduta, que devem ser seguidas por todos.

Dessa forma passamos a tratar o que é espontâneo e imprevisível, como coisa pré-calculada e acertada, esperando que se comporte de acordo com a nossa racionalidade - na maioria das vezes nada realista.  O diálogo pode não ocorrer de maneira satisfatória, apesar de acreditarmos nele.  A ação ou reação do outro, se localiza em território que nos é inacessível; muitas vezes, nem ele mesmo é capaz de prever como vai agir ou reagir.

É inevitável que a decepção ocorra, quando tomamos como certo, uma coisa futura, fora do nosso domínio - por melhor que tenha sido a nossa intenção, cordialidade, empenho ou envolvimento ... pois é impossível termos certeza, sobre que tipo de conexão de fato,  está sendo  estabelecida com o outro.

Entendo que certos limites são necessários à interação, quando se trata do respeito que deve ser observado, o tempo todo.  Porém, esses limites podem se transformar em armadilha para nós mesmos, como cercas de arame farpado, para as quais nos arremessamos, quando esse espaço se torna pequeno. Não cabendo mais dentro dele, percebemos, que não serve nem para nós, seus idealizadores. Se o outro transgride, não podemos oferecer garantias, de que também não seremos transgressores!










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