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DE CARNE E ESPÍRITO
Nem todas as sementes brotam de um berço aconchegante. Certos grãos, só germinarão, depois de
fustigados e esmagados, pois trazem uma carapaça grossa e resistente, ao
envolvimento delicado da água e o abraço caricioso da terra.
O germe da aceitação é uma delas, porque nasce dotado de uma
blindagem rústica e eficiente, resistente ao toque brando da mudança de calor,
umidade, tempo e situação. Não é logo de
pronto, que sua semente permite abrir mão de sua carapaça protetora e
entregar-se à transformação inevitável.
É com muita recusa e luta, que ela se esconde e se retrai, dentro do invólucro,
que lhe serve de barreira diante das investidas, de fazê-la romper-se em
sentimento.
Apenas pés vigorosos e persistentes, funcionando como
ferramentas brutas, são capazes de rasgar o seu revestimento, libertando sua
verdadeira e sutil essência. Uma vez
liberta, ela entrega-se à morte aparente, para na sequência, despontar vitoriosa, renascida de
carne e espírito, crescendo em direção à luz.