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NAS DOBRAS E VOZES
Nas dobras do tempo, se escondem as lembranças esquecíveis, e elas ficam por lá um período razoável. As vozes do vento dizem aquilo que quero escutar. Uma ou outra vez, falam também daquilo que não quero e mesmo que eu não goste, não há como tapar os ouvidos. Em outra ou uma vez, as dobras se desdobram e mostram pequenos relances de memória - são pedaços acordados, retalhos que eu preciso juntar à trama, porque esta tem essa capacidade de se refazer, a cada novo desdobrar.
Tudo acontece aos poucos, de acordo e conforme minha capacidade de suportar e dar-lhe uma destinação útil. Apesar de sentir a fome, o frio, o vazio; a cada nova revelação de imagens e palavras cantadas ou gritadas; vai fazendo mais sentido e vejo que se torna menos incompleto, o arquivo que arrasto comigo.
Os fragmentos de lembrança, que vêm à tona, mais o que me contam as linguas, formam o conto 'quase completo', no máximo de sua completude - aquela que posso esperar ter nesse momento e com a qual eu consigo lidar. Digo quase completo porque, há muito ainda a ser desenterrado, muito a ser esclarecido e reconhecido, coisas ainda desconhecidas de mim mesma, que precisam vir à luz.
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