quinta-feira, 14 de novembro de 2024

 1680




'UNDER THE RADAR'

Um sentimento verdadeiro não tem prazo de validade, e se tivesse – certamente o desobedeceria.  Mesmo em condições desfavoráveis, mesmo que a espera seja longa ou que as razões o convençam à morte; ele permanecerá vivo.  A despeito de todas as contrariedades e impossibilidades incisivas, tão explícitas quanto cortantes, não arredará pé de ser sentido; resistirá até, ao ser preterido.  Talvez seja mais fiel a ele próprio (do que à pessoa amada), em suas convicções e desejos, e sem nenhuma gota de água ou luz, ele sobreviverá, ainda que na surdina e sob o anonimato.


‘under the radar’: na surdina

arte __  catrim welz-stein

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

 1679  




OLHO DE HÓRUS 

De véspera e há tempos, semeados nos campos, os frutos estão à espera!

Sob o sol, sob as luas e da química no crisol, se fez o ser de muitas substâncias, através das saias dos tempos.  O ardor nos templos, o temor das víboras, forjaram seu caráter.  Amuletos dependurados ou riscados pelo corpo e as alquimias mais remotas, estiveram presentes afugentando o perigo.

Dos sete faraós e seus paletós de ouro, às ralés de todos os impérios, nunca houve quem não colhesse do que plantou!


crisol - recipiente utilizado para experiências químicas em que se têm de misturar ou fundir substâncias, metais; cadinho.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

1678




GATOS, DORES, FARDOS E MAIS  

Quando os gatos são pardos, as dores são fundas,

as fantasias são fecundas, pesadelos, fardos.

Ainda que sob penumbra, os gatos deixam sombra,

as dores permanecem dores, ardores sobrepostos ao dia.

Onde a escuridão é intensa, o medo é constante,

a insônia é circunstante, e à angústia propensa!



arte __ christian schloe

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

 1677





POR DOIS MOTIVOS

Por favor, não se apressem em me definir pelo que sou!  Em primeiro lugar, hoje eu ‘estou’, amanhã ‘estarei’ diferente.  Em segundo, nem eu mesma me arriscaria em definir-me, no dia de hoje.  Tenho fé de estar um pouco menos indefinível, amanhã.  Meu estado de espírito já será outro, já serei uma outra pessoa, e tudo o que for dito hoje, precisará ser revisto.

Sou ainda, um ser a ‘se fazer’ e a ‘se refazer’ de retalhos, remendos, como todo mundo.  Tentando aproveitar os acertos, deixando os erros do lado do avesso, para que ninguém os veja.   Eu sei que estão lá, só eu sei da importância que eles têm, pois são eles que dão base à trama que surge e se expõe para ser apreciada.

Estamos todos a caminho, pisando com pés trôpegos, seguindo em direção do autoconhecimento, ao mesmo tempo, fazendo o reconhecimento do próprio caminho, e nos esforçando para darmos o melhor de nós.

sábado, 19 de outubro de 2024

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UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO __ MALAS E ALÇAS

Qual a finalidade da alça numa mala?  Permitir que ela seja carregada.

É obvio, ‘mala sem alça’ existe sim, e isso não é só uma expressão que classifique uma pessoa difícil.  Estamos falando aqui, de pesos a serem carregados.  Pois bem, existem pesos possíveis de serem carregados por nós – são aqueles que nos dizem respeito. 

Quando nos referimos às malas sem alça, estamos falando daqueles pesos que não são nossos, tomados como nossos e que insistimos em carregar.  Por maior que seja a nossa força ou a determinação aplicada, não tem como tirá-los do lugar.  Nestes casos, além de desprovidos de alças, faltam também, as rodinhas.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

1676




FRUTOS AMARGOS 

Eram dias tórridos, sujeitos à inclemência do clima e às exigências materiais - flagelando o corpo, fustigando a mente ou vice-versa.  Sem dúvida, era de se ponderar, sobre o quanto somos responsáveis pelas condições tão alteradas. 

Tanto no desrespeito ao meio ambiente e uso dos recursos, como na desconsideração, do que é realmente importante para uma vida saudável - colhemos agora, o que foi semeado desde sempre, e o que ainda estamos a semear.



segunda-feira, 23 de setembro de 2024

 1675



 

O DIA DA FESTA 

Vês, como a vida passa com pressa?  Nem sempre foi assim.  Ela costumava arrastar-se vagarosa, pelas horas e dias.  Custava chegar o fim de semana, o feriado, as férias, o dia da festa!  A espera era no mínimo, desesperadora!

Os tempos são outros, e não têm nada a ver com idade ou expectativa; porque jovens e não tão jovens, constantemente, estão a se perder pelas horas dos dias, pelos dias da semana.  Um domingo encosta no outro, o fim de ano bate à porta e o temor de que não ‘tenhamos tempo’ é grande.  Afinal, o que passou, já se perdeu na nossa memória; e o que está por vir, talvez nem seja possível, termos tempo de senti-lo passar.  A terra gira acelerada; e como nos aproximamos rapidamente, do dia da festa, também nos apavoramos com a iminência da morte.  O desespero agora é outro - não desfrutarmos a plenitude das coisas boas.

Parece que o tempo tomou em suas mãos, as rédeas de seu movimento e velocidade ... ou então, adquiriu uma vontade própria, que antes nunca imaginou que pudesse ter.  Ele nos atropela e nos põe a correr, atrás de nossos próprios rabos. Somos reféns da sua vontade, da sua pressa e da sua indiferença.