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EU E O ECO
Tive medo de olhar-te nos olhos. Temi ser traído pelo sentimento guardado - que ele ficasse evidente, através das janelas da minha alma; e assim, eu seria descoberto. Preferi lançar-te olhares dissimulados - não falsos(!), mas envoltos numa névoa fabricada, para ofuscar a transparência do vítreo. Só Deus sabe o quanto me custou!
Do contrário, nem sei o que faria, talvez eu negasse, veementemente … ou confessasse, num ímpeto de coragem. Porém eu quis evitar, forçar-te a uma resposta ou posicionamento. Pois nem mesmo eu sei, como cheguei a isso(!), como pude dividir a minha vida em duas partes: uma antes e outra depois de ti! Vivo no ‘entre’, num espaço às vezes espaçoso, às vezes espremido, separado por dois limites finos. Ah! O entre! Lugar onde eu revivo todas as emoções.
Comparo o que se passa comigo, com uma festa. Dentro do ‘entre’, eu experimento, toda a expectativa, do tempo que a antecede, o entusiasmo crescente. Rememoro o dia e o momento exatos dela, cada detalhe, com toda a alegria, movimento e brilho. Até que me deparo com a bagunça que ficou, a casa vazia e escura, tudo o que restou dela, eu e o eco da minha voz.