1707
PLÁGIO
Senti meus pés presos ao chão, como se tivessem perdido a forma e assim, se encontrassem incorporados ao solo. Num esforço descomunal de concretizar um passo sequer, me vi atolado na substância indefinida e pegajosa, que havia se transformado em armadilha. Eu não afundava, tampouco conseguia andar, dominado por uma estranha força, que me mantinha cativo na inércia. O desespero era patente, sob o medo de ficar para sempre enraizado, num espaço nem um pouco agradável, e que poderia tomar conta de todo o meu corpo. Impossível precisar, por quanto tempo já se arrastava a agonia.
Então, numa longa e profunda transpiração da alma, saindo de uma irresignada trajetória, retirei minha atenção dos pés e me dei conta de que havia muito mais do que chão. Plagiando os pensadores e filósofos, que vieram séculos antes de mim e certamente, passaram pelas mesmas dores e incertezas; percebi que há céu para ser respirado, há águas doces para saciar a minha sede, há matas para acalmar as minhas vistas, há montanhas para que eu possa ter uma visão mais ampla de tudo. Do alto pude ver as águas salgadas, que puderam curar as minhas feridas.

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