domingo, 20 de agosto de 2023

 1612



SOBRE CEREJAS E AZEITONAS


Da cereja que falta ou da azeitona culpada.  Nem toda cereja de bolo é cereja de fato.  Quase nunca, é a azeitona da empada, a responsável pelo desconforto no estômago.


Eu costumo dizer que as azeitonas salvam qualquer prato, sejam verdes ou pretas.  As verdadeiras cerejas são deliciosas, porém nem sempre vem acompanhando a fatia de bolo que nos cabe, raramente é isso que acontece.  Não é bem sobre elas que quero falar; na verdade, não sei onde toda essa explicação vai me levar!  Vou tentar dar um fim útil à narrativa.


Devo admitir que as duas podem fazer toda a diferença, mas muitas vezes, temos que seguir sem a presença delas na nossa vida, se compararmos um pedaço de bolo ou empada, às coisas que nos acontecem.  Quando não ‘as termos’, não depende de nós, quando é algo compulsório, quando o acesso ao pote de cerejas ou ao vidro de azeitonas é impossível, vai sem mesmo!


Acredito que o importante, é termos algo doce e algo salgado nas nossas vidas.  Que não nos faltem o bolo e a empada, com ou sem o coroamento da fatia, com ou sem o sabor inconfundível  que a azeitona dá.  


E quando formos agraciados com uma ou outra, saibamos apreciar com gratidão, aquilo que nos foi permitido ter.


Acho que de uma certa forma, consegui dar um desfecho coerente à ideia inicial!


sábado, 5 de agosto de 2023

1611





CARTA ABERTA


Saudade dos lábios brilhantes!  Nesse mundo de ‘nudes’ e ‘mates’, fiquei saudoso da boca úmida e viva!  E isso, não é poesia!  Eu me refiro às escolhas que é preciso fazer, forçosamente.  Escolher uma opção, dentre inúmeras, sendo que, antes, tería acesso a todos os atributos, num mesmo produto.  É como tratar a cabeça separada do corpo - como se não pertencesse a ele.  Como se importar com o fígado, sem considerar o resto dos órgãos.  Porém, isso é o que já se faz na medicina.


O que devo considerar sim, aqui, é que minhas águas correm, dentro de um leito, bem acima do mar - e isto também não é poético.  A vida segue por caminhos já escavados, na terra e pedra, feitos pelos que vieram antes de nós. A geografia muda, pela sua própria natureza.  As regras de convivência mudam, pela ganância do ser humano, de poder e dominação. O que se ‘lutou’ tanto para conquistar, se perde em pouquíssimo tempo. 


Já não sei se poderemos contar, com os leitos dos rios, para escoar as nossas vidas.  Se eles ainda estarão lá, ou se, modificados pelos interesses, serão extintos, fazendo a água secar em muitos lugares. 


Ah!  Tenho saudades das coisas, eu diria … ‘menos incertas’, que permitiam que as mesmas coisas fluíssem, apesar de todas as dificuldades!  Saudade do tempo em que se ouvia uma voz humana, do outro lado do telefone.  Saudade do tempo, em que mulheres e idosos, realmente tinham prioridade, ao subirem num ônibus.  Hoje, o educado é o inadequado, o bicho raro.


Na verdade, os nudes e mates são os menores problemas!  É o retrocesso, a volta à barbárie, à deseducação.  A involução, com inversão de valores, vendo conquistas de gerações, sendo jogadas no lixo.  Isso é que me faz lamentar, ter vivido para ver tudo desmoronar … talvez eu tivesse esse lamento, lá pelos meus oitenta anos(!) … quando estivesse sentindo a dificuldade de me encaixar(!).


Sei que para construir, às vezes é preciso desconstruir; mas essa alarmante desconstrução me mete medo; estou no meio de uma espécie de implosão do aprendizado humano, onde conceitos são queimados, feito livros perigosos.